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quinta-feira, 13 de março de 2014

Homilia de abertura do Ano Pastoral


Meus irmãos e minhas irmãs:
Em cada Domingo fazemos memória da Paixão, da Morte e Ressurreição do Senhor. O tom deste Domingo é ainda o da glorificação do Senhor Jesus Cristo, o Rei do Universo. Esta festa não vem por acaso, foi criada em 1925 para convocar os cristãos para a militância — uma palavra muito pouco interessante e cristã, que vem de 
militia, de militar, combate. Foi, porém, posta diante do olhar e do coração dos cristãos para nos dizer que todos temos um trabalho duro pela frente. E o trabalho é sermos de Deus, trabalharmos para Deus e pela santificação do mundo. Escolhemos este dia de festa para fazermos o compromisso de serviço ao Carmo, por ser o dia da militância cristã. E para pedirmos ao Senhor do Universo que abençoe o nosso serviço durante o próximo ano; serviço que se traduzirá em oração, em dedicação do coração, em canseira e suor. Trago, irmãos, a esta homilia três palavras para partilhar convosco.
A primeira é dedicação, apresentação. 
Hoje é o dia da Apresentação de Nossa Senhora. Dia em que foi levada ao Templo. Diz-nos uma tradição da Igreja que a menininha, ao chegar às escadas do Templo largou a mão da mãe, largou a mão do pai, arregaçou a saíta e subiu ligeira em direcção ao pórtico do Templo. Subiu sozinha, sem ajuda, e deu -Lhe toda a sua vida, minuto a minuto, segundo a segundo. Para isso teve de deixar o pai, a mãe e subir sem hesitar, sem medo de cair. Subiu, subiu para servir o Senhor.
Ainda bem que nos calhou rezar esta Oração de Compromisso neste dia em que Nossa Senhora subiu uma a uma as escadas do Templo, para dedicar a sua vida ao Senhor, como que dizendo: — Sou de Deus, para servir a Deus, nada mais que Deus!
É isto que se pede aos cristãos: que sejam de Deus! Sede, pois, rápidos na resposta ao Senhor! É isto que se pede a quem frequenta a Eucaristia, a quem vem a um Encontro com a Bíblia, quem embeleza os altares… O que faz um cristão aí? Faz um serviço, uma dedicação, uma entrega ao Senhor! Digo-vos isto neste dia, não para que me imiteis a mim: não iríeis longe. Nem para imitardes o Pe. Caetano: iríeis mais longe. Não, não imiteis nenhum dos nosso padres, nem o Provincial, nem o nosso Bispo, nem o Santo Padre. Só imitaríeis homens! Imitai Nossa Senhora! Imitai aquela que muito nova subiu para servir! Para ser só de Deus.
Inclino-me, oro e abençoo aqueles que suam e lhes dói a cabeça e o corpo por dispensarem o seu tempo no serviço a Deus, nesta templo do Carmo. Agradeço, louvo e abençoo os que servem a Deus nesta comunidade cuidando singelamente dos irmãos.
Bom trabalho, boa dedicação, boa entrega! E quando vos faltarem as forças, quando o vento frio e a chuva não vos deixar seguir caminho, orai e olhai para Nossa Senhora subindo sem hesitar para servir a Deus.
Segunda palavra, Ano Sacerdotal. 
E estando a abrir o nosso Ano Pastoral, tinha de falar dos sacerdotes. Falo rápido, curto e bem. Há dois dias atrás, no dia 19, festejámos São Rafael Kalinowski, que disse: 
«Não sou meu, sou herança dos outros». Olhai que tenho meditado muito nesta frase, durante as últimas semanas! Eu, sacerdote, não sou meu, sou herança vossa, sou para vós!
Os sacerdotes somos vossos, os sacerdotes somos da Igreja. Cuidemo-los para que possam servir cada vez mais e melhor a Deus nos irmãos! Os sacerdotes somos uma grande herança para a Igreja, para cada um de vós. Somos a vossa herança, a vossa propriedade! Que o Senhor incline o seu olhar sobre nós, sacerdotes, e vos saibamos abençoar, alimentar e guiar todos os dias da vossa vida. Irmãos, os sacerdotes são vossos, tratai-os bem; não com os pés mas com o coração!
Terceira palavra, Cristo Rei.
Esta festa surgiu para animar os cristãos a serem fortes e valentes no testemunho da fé, e também para mostrar que só existe um Rei. Deixai que neste dia vos conte uma história sobre o modo de servirmos a Deus.
Conta-se que um rei quando chegava a alguma localidade, tirava do alforge real bastas moedas de ouro que semeava sobre a cabeça dos súbditos. Semeava para a direita e para a esquerda e o povo, esbaforido, baixava-se e gatinhava para apanhar as moedas do rei. Baixava-se? Não. Houve um que não se baixou.
Perguntou-lhe então, o rei: — Tu não apanhas as moedas! São de ouro, não queres ser rico?
— Não, respondeu o súbdito. Eu sirvo o meu rei.
É aqui que nos devemos deter, meus irmãos: A quem servimos? Se servimos o nosso Rei como O servimos? Se servimos outro rei, estamos mal: não servimos para nada. Sirvamos, pois, o nosso Rei. Sirvamos a Cristo Rei, inteiros e direitos no serviço aos irmãos. Não nos verguemos à procura de riquezas; mas fiquemos direitos, de pé, diante d’Ele ainda que tenhamos muitas vezes de vergar-nos para ajudar e abraçar aqueles a quem ninguém quer. (Não são reis nem têm ouro!)
Com esta dedicação, com esta amizade e com esta fidelidade a Igreja nos pede que sirvamos a Cristo Rei. Permaneçamos inteiros diante d’Ele. Não nos baixemos por baixezas.
Eis a festa de Cristo Rei: sirvamos o Senhor nos irmãos, ainda que para isso nos tenhamos de inclinar diante do corpo de Deus, que são os irmãos pobres.
Que assim seja.

[21 Novembro ´09]

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