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terça-feira, 7 de janeiro de 2014

A.D.V.E.N.T.O


A.no novo
Com o Advento inicia-se o ano litúrgico, ou cristão. São, assim, distintos, os calendários que regulam a nossa vida: há o calendário civil, que começa em Janeiro; há o calendário escolar, que começo em Setembro. Começa também em Setembro o calendário político e, de certo modo, o calendário laboral, terminadas as férias de Verão.
Agora, em Dezembro, iniciamos um novo calendário litúrgico. Este ano compreende também doze meses, no entanto não está dividido em quatro estações, mas em tempos de diferente duração. Neste calendário não manda o clima, nem se divide em solstícios e equinócios.
No ano litúrgico manda a história das relações de Deus com os homens. O seu auge é a Páscoa ou o Tríduo Pascal com a celebração da morte e ressurreição do Senhor. Outro grande momento é o Natal, em que Deus, depois de Se fazer anunciar, monta a sua tenda entre nós. Finalmente, como coroação da Páscoa, aparece a grande festa de Pentecostes como dom de Deus para a Igreja de todos os tempos.
D.escidaO Advento é um tempo de preparação para a grande festa do Natal. Natal é descida, despojamento, esvaziamento. Desde a origem a Igreja sempre viu que o Filho de Deus ao incarnar‑se no seio de Maria aceitou os condicionamentos da natureza humana ferida pelo pecado. O nascimento de Jesus é uma abaixamento da glória, que tanto desce que será morto na Cruz.
V.idaDeus não é um ser inerte, mas activo, quer na sua acção criadora e conservadora de quanto existe fora dele, quer na sua vida íntima.
Ao expressar o conhecimento que tem de si mesmo, é como Pai que gera o Filho; e ambos se identificam no amor pessoal do Espírito Santo. Num excesso de amor gratuito, quis alargar a comunhão da vida trinitária a seres espirituais distintos de si, criando, por um lado, os anjos e, por outro, o homem feito à sua imagem e semelhança, elevando-o à condição de filho adoptivo. Esta nossa condição permite, com a luz da graça, chegar ao conhecimento da vida íntima de Deus e de nela participar.
E.sperançaO Antigo Testamento viveu a esperança como o cumprimento das promessas do Deus da Aliança nesta vida; a instalação na Terra Prometida.
No Novo Testamento a esperança é focada sobretudo nas Cartas de S. Paulo.
Salvos na Esperança (Romanos 8,24) é a segunda Carta Encíclica de Bento XVI dada oportunamente à Igreja no início deste Advento, para nos recordar que a grande escola da esperança é a oração.
N.ascimento 
O Natal que nos aprestamos para celebrar é o natal ou nascimento de Jesus. Trata-se da vinda ao mundo e aparecimento entre os homens do Verbo Divino incarnado para salvação de todos. Rigorosamente, o momento da entrada do Filho de Deus na história dos homens deu-se com o SIM dito pela Virgem Maria aquando da Anunciação, que a Igreja celebra a 25 de Março, nove meses antes do Natal
Segundo S. Lucas, o nascimento de Jesus aconteceu em Belém de Judá, a terra do rei David, de cuja linhagem era José, o esposo de Maria. O nascimento terá ocorrido no ano 6 ou 7 a.C.
Depois da Páscoa, que celebra o mistério da Redenção, o maior dia festivo do Ano Litúrgico é o Natal. A sua celebração é preparada pelo tempo do Advento, polarizado pela figuras bíblicas de Isaías, João Baptista e Virgem Maria.
T.abernáculoTabernáculo era o nome dado à tenda da Aliança ou da revelação, verdadeiro santuário de Israel durante a caminhada no deserto, na qual Jahvé se manifestava a Moisés. Constava do Santo, lugar onde se encontrava a mesa com os pães da propiciação, e do Santo dos Santos, onde se encontrava a Arca da Aliança.
Na liturgia católica significa o sacrário, que muitas vezes é construído sob a forma de tenda.
Espiritualmente, afirmamos que o seio virginal de Maria foi o tabernáculo mais puro onde repousou Jesus, Pão de vida.
Ó., Nossa Senhora doNossa Senhora do Ó é o título dado a Maria no mistério da Expectação, a que correspondia a mais antiga festa de Nossa Senhora celebrada na Península Ibérica, desde o séc. VII até à reforma do calendário litúrgico de 1960.
O “Ó” do título vem das antífonas de Vésperas e da aclamação do Evangelho das missas de 17 a 24 de Dezembro, todas elas ainda hoje começadas por este apelo à vinda do Salvador.
A Virgem grávida, esperando o natal de Jesus, é o melhor modelo de vivência do Advento.

(
As entradas deste texto inspiram-se em grande parte na Enciclopédia Católica de D. Manuel Franco Falcão.)
[2 de Dezembro de 2007]

Natal, as bodas de Deus


O teólogo Xabier Pikaza leu este ano o mistério do Natal pelos olhos de São João da Cruz. Ao mistério do Nascimento chamou as Bodas de Deus.
São João da Cruz concordaria. Eu também; e é de Pikaza que retiro os pensamentos que seguem.
Pikaza vê o Advento como a experiência de enamoramento de Deus, que se abre e se oferece a todos os homens e mulheres. Só um Deus loucamente enamorado pela Humanidade a poderia ter criado e sustentado a vida. Porque também dela o Filho se enamorou, quis dizer-nos o seu amor pelo mundo.
É bonito dizer que Deus existe e é um Deus enamorado; porém, tal exige que esse dizer se diga, no comum da vida, com palavras e com vidas apaixonadas por Deus. Dizer que o Emanuel que nasce está enamorado por mim, exige que eu mostre um rosto e um coração enamorado e capaz de amar.
O enamoramento da Santíssima Trindade pela Humanidade fez o Filho nascer, como um acto de busca apaixonada da esposa, a Humanidade.
E aonde iremos nós agora, Igreja apaixonada, provar o nosso enamoramento? Havemos de ir buscar a esposa aos baixios da vida, como fez Cristo, que baixando, nos veio buscar-amar a nós. Iremos buscá-la ao lugar onde ela se encontra: nos doentes dos hospitais, nos famintos dos subúrbios das grandes cidades, nos solitários das ruas perdidas, nos recantos do mundo sem alma.
Irei buscar uma esposa, disse Cristo. E essa esposa a quem Ele ama com amor de igualdade e apaixonadamente somos nós.
Sejamos exploradores do amor e não apenas de petróleo ou de ouro. Sintamo-nos impelidos a buscar pessoas para amar, procuremos uma esposa a quem servir no amor.
Procuremos para sermos procurados. Não saiamos buscando cheios apenas de razões, sabendo que sabemos o que sabemos e ninguém mais sabe algo... Porque também eu devo deixar que me busquem e me encontrem, devo deixar-me amar e surpreender pelo amor. Onde quer que eu esteja, no alto duma torre ou na cave duma prisão, que ali se abram as portas do amor que é Deus.
São João da Cruz afirma que o Filho amou o mundo e por isso se inseriu neste cativeiro, nascendo como humano neste lago de baixeza em que se encontram os homens oprimidos. Só assim. Só fazendo-se carne da carne de Maria, só fazendo-se verdadeiro «filho do homem», o Filho de Deus faz sua a Humanidade, tomando-a nos braços, acariciando‑a com ternura e elevando-a à Sua glória.
Para o poeta (e teólogo) São João da Cruz, o Filho de Deus actua como um esposo amante. Ele sai do tálamo (sinal de geração de vida e de união) levando nos braços a esposa, a fim de a conduzir de novo para Deus. Ele é o esposo-amigo que com poderosa ternura resgata e eleva a sua esposa para a ela sempre se abraçar.
O Filho de Deus apresenta-se também como o esposo envolvido no pranto. No Natal, os homens cantam cantares e os anjos entoam melodias. No primeiro Natal o mundo cantou música digna do Céu, enquanto, Deus, no presépio, chorava e gemia.
As bodas de Deus são naturalmente as bodas da Humanidade. O poeta consegue surpreender-nos com uma troca misteriosa, na qual se vê «o pranto do homem em Deus» (que é Cristo chorando no presépio) «e no homem a alegria dos céus», que se vê, ou melhor, se ouve, nos cantares dos pastores. Vejamos, o princípio e sentido do Natal é que a Humanidade se alegre e se case, se anime a viver e a compartilhar a vida.
Maria de Nazaré é obviamente a mulher das bodas. É esse o espanto da incarnação, o centro da fé cristã. São João da Cruz tomou a Virgem Mãe como testemunha desse espanto, como exemplo e modelo de todos os crentes. Ela é a Virgem do acontecimento — «A donzela que se chamava Maria, de cujo consentimento o mistério se fazia» —, porque com o seu Sim deixa que Deus se humanize dentro dela. Maria é a mãe da contemplação assombrosa, que descobre e venera a grandeza de Deus no choro e pequenez de Cristo que nasceu.
Ao chegar aqui, parecendo que se deveria iniciar o relato da vida de Jesus e da sua Páscoa, São João da Cruz fecha o seu poema. E fica a contemplar.
[23 Dezembro 2007]

Quem és tu, Zé Pedro?


Em tempos de aparente esmorecimento é consolador e reconfortante testemunhar certos gestos pequeninos e delicados que sabem tanto melhor e tanto mais alegram e animam quanto mais têm de inesperado. Ainda há calor e surpresa. O mais insólito mas não o último passou-se com o Zé Pedro, que eu jamais vira. O encontro com ele (e a avó) foi tão inesperadamente delicado e tocante que hoje resolvi contá-lo, na Chama deste Domingo. Também é certo que uma vez mais nos aprestamos a pedir a sua esmola para as obras do adro e da fachada da Igreja. Mas a coisa, aquele encontro, foi assim tão... tão... (Tão divina?) que eu apeteceu-me perguntar: — Quem és tu, Zé Pedro?
E ainda não sei responder se naquele dia falei com um Anjo ou só com um menino.

Conheci o Zé Pedro num dia em que a avó o trouxe. São vizinhos do Carmo. Ambos poderiam figurar no livro Filhos do Carmo. Mas não, não estão lá. Fica para a próxima, se Deus quiser.
Um dia a avó trouxe-me o mealheiro do neto. Contou-me que lhe contava coisas desta casa, da Igreja, da casa de Jesus, de Nossa Senhora, do convento novo, de como isto foi ficando bonito, que nem sempre assim fora. O neto, claro, não sabe. Sabe só o que vê, e ainda assim vê pouco. Ele é tão pouquenino. Mas nestas coisas não importa o que se vê, mas o como se ama!
Quando abri o mealheiro — na minha terra dizem migalheiro — tirei dele quase 50,00€, contando algumas moedas de escudo.
(Era antigo, portanto).
Um dia a avó trouxe o neto. Oh, como lhe agradeci! Como me encantei! O miúdo parecia que sabia ao que vinha. Espevitado, não se intimidou, nem por ter de falar com os grandes, nem por estar num convento. Enfim, falamos tu a tu, como se fôssemos parceiros de há longos anos.
Tratou-me por tu. Conversámos. (Eu tive de fazer quase — não muito — de miúdo.) E depois despediu-se. Deveria haver alguma senha entre eles, pois foi simultâneo o desejo de partir. Mas não, não saiu sem me apertar a mão e me agradecer três vezes por me ter conhecido.
(Ora, Zé Pedro, bute lá! Eu não sou grande peça!)
Foram-se. Hoje garanto-me, para me convencer: se fosse de chorar, teria chorado naquela hora. O miúdo comoveu-me. Não me conhece de lado algum e foi genuíno no trato, nos gestos, no estar, no falar, e, claro, nas distracções.
— Prazer em conhecê-lo, sabe? despedia-se. E eu ainda oiço essa música nos meus ouvidos.
Obrigado, Zé Pedro! Obrigado, avó! São coisas assim de simples que ajudam a refrescar o meu barro resseco! Sim, obrigado Zé Pedro, isto é por ti. É mesmo por ti! Tudo isto é por ti. Por ti e por todos os que tu naqueles minutos representas-te diante de mim. Esses olhitos que me remiraram perante o sorriso da tua avó, quando, como homens nos apertámos as mãos, fazem-me lembrar outros meninos. Muito outros meninos e meninas.
Sim. Isto é por ti, Zé Pedro. Por ti e por eles. Pela Ana, pela Francisca, o Marcus, o Miguel, o Tiago...
Sabes, saberás, tu, Zé Pedro, que tudo isto só tem sentido porque é um legado que me foi entregue e eu recebi — eu e muitos outros comigo e antes de mim! — pelo que será um prazer entregar-te um dia a Igreja do Carmo. Sim, é verdade: um dia o Carmo será para ti e para a Ana que se debruça sobre o Altar quando celebro a Eucaristia, e para o Tomás que quer mas não é capaz de vir apertar-me a mão no Momento da Paz, e para o Alberto que não consegue ficar toda a Missa acordado, e para a Joana que já canta no Voces Carmeli tão bem quanto a mãe, e para o David que ao colo do pai é tão simpático quanto tu, e para a Alice a quem impus o Escapulário enquanto dormia ao colo do pai, e para a Elisabete que fez aqui a Primeira Comunhão antes de ir para Inglaterra e que prometeu e cumpriu vir dar-me um beijinho sempre que viesse a Aveiro, e para a Nininha que há muito tempo não a vejo por aqui com a sua saíta de fada. E para... E para...
É para ti, Zé Pedro. Tudo isto não faria sentido se tudo isto não fosse já herança tua, tua e de todos eles. Esses e outros que, entretanto, hão-de vir.
Sim, como vês, enquanto não chegar a tua vez, cuidaremos bem da igreja e do convento que muito amamos. Já viste como os velhinhos — a Dona Olga e outros — sobem mais desafogadamente as rampas? Sabes que há mais velhinhos a vir à igreja, porque já não se cansam tanto? Nem tropeçam tanto? Sabias isso? Pois, é verdade.
Cresce, Zé Pedro! Cresce, depressa, Zé Pedro. Que isto dá muito trabalho e eu estou ansioso por entregar-te a nossa Igreja do Carmo. Entretanto, como te disse, cuidaremos dela e defendê-la-emos como a menina dos olhos. Queremo-la para ti!
Aparece por aí, mesmo sem migalheiro. Porque para mim foi uma imensa alegria conhecer-te. Desta será a minha vez. Quero dizer-te três vezes que foi uma imensa alegria conhecer‑te. (Eu que não sei nada de ti, a não ser que gostas de aqui vir voando no sorriso da tua avó.)


[04 de Novembro de 2007]

Jesus nazareno, Rei dos Judeus


Celebramos neste último domingo do Tempo Comum a Solenidade de Cristo Rei do universo e com ela terminamos o Ano Litúrgico.
«Rei de Israel», «Rei dos judeus», «reino do Filho» são expressões com que a liturgia deste domingo nos recorda a gozosa realidade de Jesus Cristo, nosso Senhor e Rei do universo.
O cartaz que estava na cruz onde Jesus morreu para nos salvar, anunciava: «Jesus nazareno, rei dos judeus». Historicamente o título de rei dos judeus surge com David, de quem Jesus descendia segundo a carne.
O apóstolo Paulo recorda-nos que pela obra salvadora de Cristo somos cidadãos do Reino do Filho: «
O Pai transferiu-nos para o reino do seu muito amado Filho, no qual temos a redenção, o perdão dos pecados

DAVID, REI DE ISRAEL

Os israelitas conquistaram a Terra Prometida em finais do séc. XIII aC, sob o comando de Josué. A conquista foi progressiva e muito demorada. Quando foi considerada concluída procedeu-se à distribuição das terras pelas tribos de Israel. Seguiu-se algum tempo de paz e autonomia. As uniões entre as tribos eram esporádicas e com um intuito: defender-se de agressões externas. Apesar de tudo, durante este período foi aparecendo uma diferenciação: por um lado, as tribos do Norte; por outro, as do Sul.
Quando Samuel ungiu David como rei, fê-lo só sobre as do Sul: Judá, Benjamin e Efraim. E sobre elas governou sete anos.
Mas David era duma personalidade extraordinário, tinha voz de comando e génio militar que o levaram à conquista da fortaleza de Jerusalém, considerada inexpugnável. Os êxitos induziram as tribos do Norte a proclamá-lo rei, e assim foi.
Foi um passo decisivo para Israel: Com David, pela primeira vez, alcançava-se a unificação das Doze Tribos. Havia agora um só rei, um só comando político-militar.
Jerusalém era capital.
O reinado de Cristo é continuação do de Israel; está igualmente composto por doze tribos, sob um único rei com capital em Jerusalém, a capital dum reino messiânico, inaugurado na Cruz.
JESUS, REI DOS JUDEUS

Jesus morre na cruz porque era rei. Rei dos judeus. Esse motivo foi denunciado aos habitantes de Jerusalém e aos peregrinos da Páscoa do ano 30, por um cartaz em hebraico, latim e grego.
Mas que judeu aceitaria um crucificado como rei? Tal ignomínia era inaceitável, por isso as autoridades judias pediram a Pilatos que mudasse o texto. Pilatos, respondeu: «
O que escrevi, está escrito». E muitos se riram...
Dentre todos, somente um dos ladrões percebeu que o reino desse Crucificado tinha um estilo outro, diferente dos da terra. Por isso, lhe disse: «
Jesus, lembra-te de mim quanto estiveres no teu Reino». Na verdade o título de rei é verdadeiro, mas remete-nos para um Reino diferente: um Reino de verdade e de vida, de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz.
Jesus foi crucificado pelos poderes do mundo. É assim o seu jeito de anunciar o seu Reino de Amor!

O REINO DO FILHO

Pelo sacramento do Baptismo o Pai chamou-nos à fé e por ela inseriu-nos no Reino do seu Filho. O filho é Jesus de Nazaré, o Crucificado, que agora vive ressuscitado e glorioso, como vencedor! O seu Reino já não é duma só raça ou dum só povo, nem só do íntimo dos corações. É um Reino de todos o cosmos e de toda a criação, porque «por Ele foram criadas todas as coisas; tudo foi criado por Ele e para Ele».

Para o Filho o título de rei é a sua verdade. Ele é Rei! Ele é o Rei! Nada está fora do seu reinado e poderio, nem o tempo nem o fora de tempo. Ele é o Rei do Universo. Ele é o rei da história, é Ele quem orienta os acontecimentos humanos para o seu fim. É o Rei de cada homem e cada mulher; reina sobre eles pela fé e pela esperança, pela caridade e pela justiça, pela paz e pela solidariedade.


[25 de Novembro de 2007]

Dai-lhes, Senhor o descanso eterno!


Nós não podemos esquecer os mortos porque são eles quem verdadeiramente vive. Nós, fazemos memória dos mortos porque com eles estabelecemos uma comunhão única só possível pelo mistério da Graça e só vivenciável no amor que Deus nos tem, porque Ele é Deus dos vivos e dos mortos.
A celebração da Missa pelos defunto não é moda de agora. (Infeliz) Moda de agora é ignorar o valor da missa pelos defuntos. Tal desconhecimento deve-se à vontade de ignorar o acontecimento sempre trágico e traumático que é a morte. Perante ela nasce mais depressa a revolta (— 
Porque é que Deus não fez nada?) e a incompreensão (— Se alguém devia morrer não era ele!), que a serenidade e a esperança no Senhor.
É fé da Igreja que a Missa se oferece pelo perdão dos pecados (e outras necessidades) dos fiéis vivos, mas também pelos defuntos.
Em 156, um ano depois da morte de São Policarpo, os cristãos de Esmirna celebraram uma missa em sua memória. Em 210, o teólogo Tertuliano ensina este piedoso dever para com todos os defuntos. No séc. IV dá-se o aparecimento da Missa de Séptimo e Trigésimo dias, além da do dia. No séc. VI os sacerdotes começaram a rezar missas de defuntos durante uma série de dias, mesmo sem a participação de fiéis. No séc. X o Abade Odilão de Cluny, começou a celebrar a «Comemoração dos Fiéis Defuntos» no dia seguinte à Solenidade de Todos os Santos, como ainda hoje se faz.
Os séculos seguintes testemunharam o incremento e multiplicação destas missas.
A memória dos defuntos é hoje um dos centros psicológicos da Missa, e é consensual e até necessário mencionar publicamente os seus nomes. Na verdade, a morte possibilita que nos abramos completamente Àquele que nos fez viver na terra; e tanto assim é que quer os vivos quer os mortos comungam o mesmo mistério da Graça: a incorporação em Cristo, no Corpo Místico de Cristo! É por isso que, vivos e mortos, verdadeiramente nos encontramos na Eucaristia.
Exceptuando a memória terna que deles fazemos na oração da Igreja, é bem sabido que a nossa época se esforça por esquecer publicamente a agonia e a morte. É assunto por demais desagradável e inibidor para os de hoje. Será porque nos recorda os nossos limites? Será porque um dia nos tocará? Será porque lhes disseram que seriam quase deuses intocáveis e, afinal, pereceremos como os outros? Será que a morte para além da separação parece uma derrota? Será porque na morte não vimos um sinal da presença do amor de Deus? Será por isto, será por aquilo ou por tudo?
É porém verdade que aquilo que nos afasta da comunhão espiritual dos mortos nos afasta também da poderosa força da mensagem cristã da ressurreição. Quem perde uma perde a outra também.
A fé cristã exprime-se na comunhão do crente com Deus, na comunhão dos crentes entre si e também na comunhão dos vivos com os mortos. Entre os fiéis vivos e os fiéis defuntos existe uma solidariedade de que ambos beneficiam.
A comunhão com Deus — como Deus dos vivos! — é tanto mais expressiva quanto mais os mortos significam para nós, através da comunhão dos santos que professamos quando rezamos o Credo.
Por sua vez, quando rezamos:
Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno
entre os esplendores da luz perpétua;
que descansem em paz. Amen,

estamos a rezar aquela mesma palavra de amor, que os nossos irmãos mortos pronunciam sobre nós desde a plenitude de Deus, e que é:
Depois das lutas da vida
dai, Senhor, a estes irmãos
[isto é, a nós que ainda vivemos na Terra]a quem, como nunca, amamos no Vosso amor,
o descanso eterno e que a Vossa luz
igualmente brilhe sobre eles.

Essa é a comunhão plena dos santos, aquela que ansiamos, que professamos e que já vivemos, embora desde a perspectiva da fé, não do amor pleno e definitivo.
A Eucaristia é memorial da Paixão e Morte de Jesus. Essa é a razão pela qual ela é o lugar onde melhor podemos recordar os mortos. Ali recordamos a morte do Rei da vida e professamos a sua ressurreição, por isso a recordação da morte dos nossos defuntos é também a da sua ressurreição!
Não é humano não fazer memória dos mortos.
Celebremos, pois, a Eucaristia com a certeza de que nela se reactualiza a Nova Aliança. De que por ela nos aproximamos confiadamente de Deus. De que nela fundamentamos a nossa existência, lhe conferimos densidade e renovamos a comunhão com Deus e os irmãos, isto é, retomamos o projecto inicial de amor no qual Deus nos criou.


[28 de Outubro de 2007]

Todas as Igrejas para o Mundo Inteiro!


O mês de Outubro entra nas comunidades cristãs como um imenso apelo para a missão. Nas Igrejas locais e nas Comunidades Religiosas, como a nossa, palpita esta ânsia, sente-se este apelo. Vamos ajudar os missionários, vamos rezar pelos missionários. Que eles bem precisam: Nos últimos 25 anos morreram quase vinte missionários portugueses em emboscadas na estrada, em ataques às missões, no meio de raptos e sequestros; foram crimes pensados para eliminar quem defendia a justiça e a verdade. Porque amavam morreram; perderam para salvar.
A Igreja de Jesus Cristo está em Aveiro, Paris, Angola, Roma, Tóquio ou Corinto. Não interessa o lugar não interessa o nome, interessa que Jesus está onde está um cristão, e todos, pela moção do Espírito Santo, estamos em comunhão com Cristo.
Caminhamos todos embarcados na barca de Pedro, que é a de Cristo. Entre as diferentes Igrejas não há distância, mas comunhão; não há separação, mas união e fraternidade. Em cada comunidade ou em cada porçãozinha do Povo de Deus, late o coração da Igreja Universal, de toda a Igreja. As dores e debilidades de uns são as de todos, as alegrias e as riquezas igualmente.
As Igrejas têm a sua cor e a sua tradição, as suas sensibilidades, condições, disposições, sonhos, esperanças e calor humano próprios. Porém as diferenças não deixam ninguém à deriva, ninguém separado, ninguém abandonado.
Somos todos responsáveis por todos.
A mensagem do Papa para este dia responsabiliza‑nos mutuamente: 
Todas as Igrejas para o mundo inteiro, escreveu o Papa. E disse mais: «Demos graças ao Senhor pelos frutos abundantes obtidos por esta cooperação missionária em África e noutras regiões da Terra. Multidões de sacerdotes, depois de terem deixado as comunidades de origem, dedicaram as suas energias apostólicas ao serviço de comunidades acabadas de surgir, em zonas de pobreza e em vias de desenvolvimento. Entre eles encontram-se não poucos mártires que, ao testemunho da palavra e à dedicação apostólica, uniram o sacrifício da vida».
O envio missionário de Cristo é para ser ouvido por todos: «
Ide por todo o mundo!». Ninguém deve sentir-se de fora nesta tarefa de anunciar a alegria do Evangelho aos quatro cantos da Terra. Todos, bispos e sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos, jovens e famílias: «Cada comunidade cristã nasce missionária, e é com base na coragem de evangelizar que se mede o amor dos crentes para com o Senhor».
A todos cabe partilhar a preocupação pela difusão do Evangelho; cada um deve sentir-se protagonista da missão da Igreja. Deste Dia Missionário Mundial espera o Papa que se favoreça a cooperação entre as Igrejas e a preparação de novos missionários. Porém, conclui: «
Não esqueçamos que o primeiro e prioritário contributo que somos chamados a oferecer à acção missionária da Igreja é a oração».


[21 de Outubro de 2007]

Pelos labirintos do mundo


A marca do início é sempre algo feliz e esperançoso. Iniciar um novo Ano Pastoral deve despertar-nos para a novidade da Presença Divina, que vem aos nossos corações e à nossa comunidade de forma sempre nova e cheia de graça. Da minha leitura do próximo Ano Pastoral deixo-vos cinco marcas especiais:
Primeira marca: O labirinto
Terminaram as obras. Estamos cansados e de arcas vazias, mas não abatidos nem vencidos. A fachada da igreja ficou limpa e digna; o Adro parece maior, a sobriedade torna-o mais belo. Como tudo o resto.
À entrada do adro inscrevemos um desenho dum labirinto. Pode parecer estranho que ao virmos à igreja nos receba um símbolo tão inesperado. Ele apenas quer dizer que os passos que passam pelos caminhos do mundo, se encontram todos ali. Quanto custa às vezes, vir à igreja rezar em comunidade! Quantas vezes a nossa vida pessoal e familiar é um emaranhado de confusões e de estorvos!
O labirinto quer recordar-nos que tudo é mais fácil com Deus: basta confiar! Ele recorda‑nos que os caminhos duros da vida, se levados com Deus são auto-estradas largas e fáceis; e que os caminhos largos e sem Deus são abismos escuros, são precipícios terríveis onde nos espera a derrota e a morte.
O labirinto recorda-nos o que nos ensina Santa Teresa: Não chega fazer a viagem à igreja; falta depois fazer a viagem ao interior da nossa alma — tantas vezes mais confuso que a vida exterior! É necessário que tu caminhes até ao mais profundo centro da tua alma, aonde só se chega depois de vencidas seis moradas. Aí, na sétima, no centro mais profundo, unir-te-ás intimamente ao teu Senhor.
Vem, vinde ao Carmo. Pisai aquele labirinto. Recordai que à canseira física sucedem os trabalhos do espírito. Vinde e reconciliai-vos. Vinde e alimentai-vos do Pão da Vida para não desistirdes nem fraquejardes na peregrinação.
Segunda marca: A atenção aos pobres
O novo Ano Pastoral pede-nos que prestemos atenção aos pobres. O título oficial é O serviço aos pobres é o sinal visível da verdadeira Igreja de Jesus Cristo. A Igreja foi sempre mais verdadeira quanto mais olhou o rosto dos pobres e nele reconheceu o rosto de Jesus Cristo. Perguntei-me o que poderia fazer a nossa Comunidade do Carmo pelos pobres. Será preciso gastar muito dinheiro? Será preciso privar-nos dos nossos bens? E a resposta surgiu-me em dois pontos. Assim:
1. A partilha de bens é necessária e ajuda o pobre. Mas não é suficiente se, como pede o Papa, não «fizermos um exigente exame de consciência» à nossa vida e aos nossos haveres. O exame nos dirá que é possível valorizar a gratuidade; que podemos fazer muito bem sem recorrermos aos subsídios do Estado; que podemos valorizar o mais: é sempre possível fazer mais, fazer melhor, fazer com o coração, fazer com o sorriso, aquele sorriso que nasce da oração. É sempre possível valorizar o mais e viver com menos! Será que já o tentámos?
2. Existem uns pobres que estão impossibilitados de arrastar-se até às portas das igrejas, às esquinas das ruas ou aos mercados. São os pobres de relação, aqueles que ninguém visita, a que ninguém oferece o toque da mão.
São Policarpo dizia: «Quando puderdes fazer o bem não adieis». E eu dir-vos-ei: Quando puderdes visitar alguém que seja tão pobre que não consiga atravessar-se à frente do vosso olhar, visitai! Visitai, porque essa caridade é da melhor.
No breviário do papa João Paulo I — o Papa do sorriso! — foi encontrada uma oração doce como uma súplica de criança, escrita pelo seu punho. Reza assim a sua oração: «Peço-te uma graça: gostava que Tu estivesses a meu lado na hora em que eu fechar os olhos para a vida terrena. Gostava que apertasses a minha mão na tua, como faz a mãe com o seu filho pequeno, no momento do perigo. Obrigado, Senhor.»
A terceira marca: A celebração de CentenáriosPor graça de Deus, neste novo Ano Pastoral é-nos renovada a alegria da celebração de novos centenários. Durante o Ano anterior celebramos uns, agora serão outros. Assim é porque somos uma família com muita história e de boa memória.
Uma comunidade é sempre alicerce dos que hão-de vir. Os que nos precederam, vivendo e amando o Carmo antes de nós, legaram-no-lo e são os nossos fundamentos. Nós caminhamos sobre a santidade dos nossos irmãos. É por isso que não me resigno a ter de celebrar mais centenários. Não me resigno; alegro-me e agradeço a Deus essa graça.
A 19 de Novembro completam-se os cem anos da morte de S. Rafael Kalinowski, restaurador do Carmo polaco (Vede a sua imagem à entrada; vede como é bonita aquela sua atitude de bênção sobre o mundo...); celebraremos o VIII centenário da nossa Regra, e o I do nascimento da Irmã Lúcia.
Hoje celebramo-los a eles, e nós?, e nós que somos fundamento do futuro, quando nos celebrarão a nós? Ou melhor dito: quem de nós estará disposto a sofrer e a amar tanto o Carmo, que venha a merecer ser recordado como uma pedra ou uma coluna que o construiu, o engrandeceu e o sustentou? Quem?
Quarta marca: Os Filhos do CarmoSaiu hoje um livro que se chama Filhos do Carmo. São pequenas histórias de alguns filhos desta casa. Pode ser encontrado na Lojinha. Este livro é uma pequena estratégia para angariar fundos que paguem a Cruz Processional. Agradeço sentidamente a vossa filiação carmelitana, particularmente a dos biografados que favoreceram esta causa. Por favor: Levai-o! É uma ajuda que nos fazeis, e que ele nos estimule a sermos santos como os que lá estão.
Há dias, nós, os três frades, ponderávamos a compra de algo necessário. Mas logo parámos: não há dinheiro, concluímos. Até que um os frades exclamou: «Arre!, que o dinheiro está sempre a estorvar as coisas de Nosso Senhor!» Assim é, entre nós e entre vós. Porém, que só Deus seja sempre louvado nas nossas vidas. Só Deus, jamais o dinheiro!

Última marca: As contas das obrasParece que só falo delas, e falo. Eu falo do que é meu dever falar. Direi o que já disse uma vez: Só fizemos o que devíamos ter feito! Fizemo-lo sem dar passo algum maior que a perna. Desde o início das obras do Adro que o Empreiteiro conhecia as nossas dificuldades, pois cuidamos em denunciá‑las com humildade. Pela estima que nos tem, aceitou trabalhar sabendo que as facturas poderiam tardar em ser pagas. As posteriores dificuldades que caíram sobre a sua empresa não as contava ele nem nós. Portanto, se muito falo das nossas dívidas é também por dever de solidariedade com quem aqui amassou o pão justo de cada dia!
Os peditórios mensais renderam: 537,50€, em Junho; 900,00€, em Julho; 565,00€, em Agosto; e 1.090,00€, em Setembro. O total não chega a 10% da penúltima factura que temos de pagar! E depois falta a última! Porém, a minha confiança mais firme é a de que nunca Deus faltou a quem por Ele trabalhou!
Aqui termino, confiando-vos que vivo e rezo confiado. Confio que tudo isto é para louvor de Nossa Senhora do Carmo e para honra da Santíssima Trindade. São Eles a quem mais amamos e servimos. Que eles nos abençoem e nos acompanhem nos labirintos deste novo Ano Pastoral.

Homilia da Eucaristia de abertura do novo Ano Pastoral
[6 de Outubro de 2007]

Muito obrigado!


Há cinco anos atrás, neste mesmo Sábado, no fim desta Eucaristia, informei-vos das obras que estariam para começar. Disse nessa altura, mais ou menos isto: «As telhas estão podres, os caibros estão a ruir, as paredes estão estragadas, chove dentro da Igreja, chove dentro do Convento, entra vento, frio e calor e os bichos convivem com os frades. Senhor Engenheiro David Leite não deixe cair esta igreja. Faça as obras que aqui falta fazer e depois faça também um Convento novo onde os frades possam viver.»
Claro que estava quase tudo preparado para começar. Aquelas palavras — como ele bem entendeu, e depois mo disse — só queriam dizer que as obras eram de todos: dos frades desta Comunidade e de todos os fiéis leigos Carmelitas. Isto é, de todos vós. Ele seria, enfim, o ponta de lança do compromisso da comunidade laical carmelitana de Aveiro. Foi isso que ele bem entendeu e fez.
Passados cinco anos, terminadas as obras que nos propusemos [Não é por faltarem cinco pedras, quatro marteladas e três pinceladas que eu vou dizer que elas não estão acabadas.] dizia, terminadas as obras que nos propusemos, cumpre-me a mim, Superior desta Comunidade, pôr a última pedra, ou como quem diz, a última palavra.

E esta palavra são duas: MUITO OBRIGADO!

Muito obrigado a Deus Nosso Senhor, que é sempre bom. Se todos concordarem comigo, todos juntos diremos que foi muito bom estar na re--construção da nossa Igreja do Carmo e do nosso Convento, porque o fogo que ardia no coração da nossa Santa Madre Teresa de Jesus não era outro que o de ver nascer casas onde Deus e Nossa Senhora fossem muito honrados, porque muito feridos e desonrados são em muitíssimas outras!

Muito obrigado a Nossa Senhora do Carmo, que é sempre Mãe e Irmã nossa. Foi por Ela. E foi para que Ela se sinta bem no nosso meio. Deu-nos uma casa nova onde nos sentimos bem, e nós demos-lhe uma igreja renovada, uma coroa, opas novas da sua Confraria, capas brancas da Fraternidade, uma nova cruz processional e também um barco! Afinal, ela é a Capitã das nossas vidas e trabalhos.

Muito obrigado à Equipa Técnica do senhor Arquitecto Francisco Simões que riscou e arriscou nestas obras. Nunca é fácil tocar num monumento com quase quatrocentos anos. E porque estamos no século XXI também não é tarefa cómoda erguer um convento. Hoje já não são muitos a saber o que é um convento. E são menos os que sabem riscá-los. Pelo bem que fez, muito obrigado ao senhor Arq. Francisco Simões.

Muito obrigado à Soianenses, na pessoa do senhor Agostinho Ferreira. Na Soianenses não vejo hoje só uma construtora civil; vejo amigos e até um complemento da nossa família do Carmo. Alegra-me saber que em tempos difíceis as suas famílias comeram do pão que aqui amassaram e nós abençoamos. E alegra-me muito que nem um operário aqui se tenha ferido! Nem um! [Se deram marteladas nos dedos foi só para lembrar que as segundas-feiras costumam ser dias difíceis!].

Muito obrigado a todos colaboradores e benfeitores. Uns perderam muito tempo com estas obras e outros perderam muitíssimo. Uns inquietaram--se muitos com as obras, mas outros perderam muitíssimo sono por causa delas. Só Deus sabe quem mais perdeu. Só Deus sabe quem mais ganhou. Só Deus sabe quem mais amou. Só Deus sabe qual a oferta que mais Lhe agradou.
Eu e a Comunidade estamos agradecidos. Simplesmente agradecidos.
As obras só puderam ser feitas com as benfeitorias que nos fizeram. Elas chegaram-nos de Aveiro e seus arredores; de Braga, de Viana e das gentes das outras Comunidades carmelitanas, como a de Avessadas [Que tem hoje aqui uma representação e me dão uma grande alegria por escutarem estas palavras!].

Ouvi muitos comprazimentos com as obras. E ouvi muitos conselhos. «Faça assim». «Não se esqueça daquilo». «Olhe bem por aquelas pedras». E ouvi e oiço também muitos elogios. As imperfeições — que as há! — ficam serenamente diluidas no muito bem que se fez. Quero, por isso, agradecer também aquilo que vós não calastes, o que nos aconselhastes, o que em nós confiastes.

Alguém me dizia ontem o provérbio: «Se queres desejar mal ao teu vizinho, deseja-lhe obras em casa». Sim. As nossas obras foram um mal necessário que nós suportamos com garbo, com brio, orgulho, sacrifício, ânimo, paciência, garra e gosto. Eu desejei-me este mal a mim mesmo. Embora talvez, talvez não soubesse que haveria tanto pó, ruído, desconforto, frio, vento, reuniões, decisões, dores de cabeça, susto e até lágrimas.

Mas valeu a pena, porque esta é obra de Deus. Deus andou aqui connosco: andou nos nossos trabalhos, no meio do pó e dos andaimes, nas reuniões, nos estiradores e computadores, nas orações e dores de cabeça. Que a sua bênção nunca nos abandone. Pois até agora nunca nos abandonou.
Agora que terminaram as obras, falta repetir o que Jesus ensinou a dizer aos servos que apenas cumprem o que lhes foi mandado: «Sou um servo inútil, só fiz o que devia ter feito» (Lc 17:10). E dizer estas, que são minhas: Sou um servo inútil, só fiz aquilo que me beneficia.
Agora que terminaram as obras, falta também recordar que há mais obras por fazer. Falta a boa obra que cada um tem de fazer da sua vida e da sua família. E faltam as obras no edifício do ex-Convento que nos foi devolvido. Serão feitas quando Deus quiser, quando Ele mandar. Porque é Ele quem manda. Nós só somos servos!

Mas convém aqui recordar hoje que dentro de seis anos, em 2013, se celebram os quatrocentos anos da fundação deste Convento do Carmo. Nessa data nem todos estaremos aqui, mas, desde já, todos poderemos ajudar a celebrar essa data feliz da história da nossa Comunidade do Carmo e da história da cidade de Aveiro.
O que fizermos há-de ser sempre por Deus e por Nossa Senhora do Carmo. Eles é que são os senhores. São Eles quem mandam. E já que mandam, que mandem. Que mandem! Porque há aqui quem obedeça bem e quem construa bem.
Por isso, rezamos:
Divino Menino Jesus de Praga - Abençoai-nos!
Nossa Senhora do Carmo - Rogai por nós!
S. Padre João da Cruz
S. Madre Teresa de Jesus
S. Teresinha do Menino Jesus
São Rafael de S. José Kalinowski
Bem-aventurado Redento da Cruz
Bem-aventurada Isabel da Trindade
Todos os Santos e Santas do Carmo,
Todos os Santos e Santas de Deus,
Viva a nossa Mãe do Céu!
Viva Nossa Senhora do Carmo!
Viva a Senhora do Carmo!

Homilia do Sábado da Procissão de Nossa Senhora do Carmo,
[22 de Julho de 2007]

Filhos do Carmo


Escutai a nossa oração, ó Senhora do Carmo,
filha de Israel e Mãe de Deus.
Rezai connosco, vós que foste filha, mãe adorável e esposa fiel.
Nós vos oferecemos os filhos do Carmo,
especialmente os que passaram por esta Comunidade
e já partiram ao encontro do Pai,
para que encontrem a paz e a luz que sempre ansiaram.

Pedimos a vossa benção materna para os nossos pais:
Que a vossa solicitude os acompanhe sempre
para que as suas mãos fortes nos abençoem
e os seus lábios beijem os nossos filhos.

Protegei os jovens casais:
abençoai cada marido e cada esposa,
para que se mantenham firmes no seu rumo.
Nós vos pedimos a bênção para os nossos filhos
e para os filhos que hão-de nascer dos nossos filhos.
Sede o farol que nos guia seguro e certeiro
até ao porto seguro da Casa de Deus.

Ó Mãe de Jesus,
que em todos os momentos das suas vidas
eles encontrem em vós apoio e protecção,
e no vosso Divino Filho um amigo e fiel companheiro.
Que o vosso coração de Mãe os ampare nas dificuldades,
os encoraje nos desafios e os defenda contra as tentações.
Senhora do Carmo, Mãe da Igreja,
também vos confiamos os corações,
sonhos e anseios dos nossos jovens e adolescentes.
Animai muitos deles a servir Jesus
nos ministérios da Santa Igreja.

Que unidos ao vosso Filho eles sejam sal puro e luz perene,
sirvam de consolo e alentem tantos irmãos e irmãs
que percorrendo os caminhos do mundo,
anseiam por encontrar a Luz e a Verdade.
Amen.


[03 de Julho 2007]