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sábado, 27 de dezembro de 2008

Carta dum filho

Pai não me grites,
porque te respeito menos quando o fazes.
E me ensinas a fazê-lo e u não quero fazê-lo.

Trata-me com amabilidade e cordialidade
como tratas os teus amigos.
Para sermos uma família
não significa que não possamos ser amigos.

Se fizer algo mal feito,
não perguntes por que o fiz.
Porque por vezes nem eu sei.

Não digas mentiras diante de mim,
nem me peças que as diga por ti.
(Ainda que seja para te tirar dum aperto.)
Fazes com que perca a fé no que dizes
e assim sinto-me mal.

Quando te enganares, admite-o.
Assim melhorará a minha opinião sobre ti
e ensinar-me-ás também a admitir os meus erros.
Não me compares com ninguém,
especialmente com os meus irmãos.

Se me fizeres parecer melhor que os outros,
alguém sofrerá.
(E se fazes parecer que sou pior,
serei eu a sofrer!)
Deixa que eu valha por mim mesmo.

Se tu fizeres tudo por mim,
Eu não poderei aprender.
Não me dês sempre ordens.
Se em vez de me mandares me pedisses,
eu faria mais depressa e com mais gosto.

Não mudes de opinião tão frequentemente
sobre o que devo ou não devo fazer.
Decide e mantém a tua posição.

Cumpre as tuas promessas boas ou más.
Se me prometes um prémio, dá-mo.
E se prometes um castigo também.

Trata de me compreender e de me ajudar.
Quando te contar um problema não me digas:
- Isso não tem importância!,
por que para mim tem e tem muita!

Não me digas para fazer o que tu não fazes.
Eu aprenderei a fazer e farei sempre o que tu fizeres,
mesmo quando o não disseres.
Mas nunca farei o que tu digas e não fazes.

Não me dês tudo o que peço,
porque às vezes só peço para ver
quanto posso receber.

Ama-me e diz-me que me amas.
eu gosto que mo digas,
mesmo que tu julgues dispensável dizê-lo.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Sugestões para o Advento

Estamos em Advento. Eis algumas sugestões para este tempo do Advento: Acabe com uma briga. Construa a paz. Procure um amigo esquecido. Elimine a suspeita e substitua-a pela confiança. Escreva uma carta de amor.
Partilhe um tesouro. Responda com doçura, ainda que desejasse dar uma resposta ríspida. Motive um jovem a ter confiança nele mesmo. Mantenha uma promessa. Encontre tempo, dê tempo. Não guarde rancor. Perdoe o inimigo. Celebre o sacramento da reconciliação. Escute mais os outros. Peça perdão quando se engana. Seja gentil, ainda que não tenham feito nada de errado! Procure compreender. Não seja invejoso. Pense antes no outro.
Ria um pouco. Ria um pouco mais. Ganhe a confiança dos outros. Oponha-se à maldade. Seja agradecido. Vá à igreja. Fique na igreja mais do que o tempo habitual. Alegre o coração de uma criança. Contemple a beleza e a maravilha da terra. Expresse o seu amor. Volte a expressá-lo. Expresse-o mais forte. Expresse-o serenamente.
Alegre-se, porque o Senhor está próximo!

sábado, 15 de novembro de 2008

Talvez um dia o gelo degele!

Evocação feliz (e nostálgica) do meu Seminário em tempos de tremor por causa do frio. Ensinaram-me que juridicamente na Igreja uma instituição só morre cem anos depois de ter desaparecido o último a vestir-lhe o hábito. Talvez seja, que para tudo tem de existir regras que assinalem o caminho por onde trilhar o entendimento das coisas. Enfim, morrer cem anos depois de morrer o último é um tempo suficientemente longo para provar que se não morre exactamente quando se morre!
Posto a rezar a semana dos Seminários, isto é, convocado que fui, que fomos, para orar intensamente durante uma semana pelas vocações sacerdotais, ou melhor dito ainda, para rezar pelo Seminário, coração da Diocese, dei por mim a pensar que há corações e corações!
Que o Seminário é o coração da Diocese é uma maneira de dizer que sem ele, ou com ele enfermo e engelhado, não existe vida, calor e continuidade.
Dei, pois, por mim a pensar que há corações fortes e corações fracos. Os corações fortes são bons, generosos, saudáveis, atléticos, capazes, audazes. Os corações engelhados são fracos, débeis, sem energia, sem capacidade de explosão, sem ánima, desvitalizados, acantonados, com os pés ao sol do Inverno.
Onde estamos, onde está, como está a Igreja portuguesa?
Estamos mal, estamos acabrunhados, encolhidos e sem chispa, sem fogo no coração. Como o sangue já não chega às extremidades agradecemos ao Inverno que se compadeça de nós e nos aqueça com fogachos de promessas e nos traga umas réstias de esperança que nos vão aquecendo os corpos que já mal mexem.
Ah, meu Deus que mal andamos e como nos sentimos serenos e consolados! Que eu saiba só um Seminário em Portugal é uma fornalha ardente de promessas. Os outros são braseiros latentes sob uma dura capa de cinza fria. Alguns acabaram de morrer e o calor ainda está nas paredes do corpo. Outros já nem isso, estão frios. Há gelo na suas salas, gelo nos recreios, gelo nos refeitórios, gabinetes, dormitórios, nas capelas. Tanto gelo assim até ajuda a conservar, mas todos sabemos que não há nada como a comida fresca, na hora!
Falo do (pouco) que sei.
Sei que em 1980 cheguei com minha mãe à Estação de Viana com duas malas. Sei que passei a ponte, de pé, na carruagem, com o nariz no vidro, virado para o lado onde sabia que apareceria o Seminário. Depois, quando dentro do táxi pedi para me levarem ao Seminário levaram-me para outro. (Para a minha mãe era igual, mas eu sabia que era este e não outro!) Ao instalar-me aqui aos 12 anos e a 200 km de casa, dei-me conta que não estava sozinho: éramos uns 70! Sim, uns setenta rapazes mas seguramente mais de cinquenta! Aquilo era uma festa! O Seminário era uma festa!
Foi aqui que eu cresci durante quatro anos. As calças rasguei-as todas por causa do futebol, mas frio jamais tive!
Quando em Maio deste ano me foram buscar sabia para onde vinha, porque ainda guardo nos ouvidos os gritos e os pulos de índios e cóbois que dávamos. Agora, porém, já não há mais gritos, já não há mais corridas! Os matraquilhos foram despromovidos para as masmorras do fundo! A sala de estudo chama-se agora sala 48! (48? Raio de nome. É que nem existe a 47 nem a 49!) Ainda há mobiliário do tempo do Seminário, mas já não damos saltos para distribuir pelos cacifos mais altos as cuecas e as camisas, as toalhas e os lençóis!
Ah! Seminário Missionário Carmelitano, que morreste!
Quem nos espantará o frio que já nos tolhe?
Quem nos aquecerá os ossos que começam a ser roídos pelas implacáveis artroses?
(Acaba de me ligar o Tomás, de Penafiel — tem no nome as mesmas iniciais que eu! Soube que estou aqui e quer passar por cá. Pergunta-me como está o Seminário. Está frio, digo-lhe. Não tem meninos. Ah, mas eu tenho um, contesta-me alegre. Deviam ser três, levou como resposta. Um para ti e dois para Deus, para que quanto mais o coração batesse tanto menos se morresse de frio.)
Um dia os Seminários acabarão. Falta saber se por excesso de frio, se de calor. Entretanto rezemos.
Talvez o gelo degele!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A mulher do saco de compras


Saí para a rua; tinha uma reunião lá no fim. Primeiro foi a Rua da Bandeira, depois a Praça da República e depois a Manuel Espregueira. Pelo meio fui aos Correios.
Saí para a rua, em direcção a uma reunião, porque, no fim de contas, não somos apenas nós a existir pelo que é necessário no cultivo da existência em que nos encruzilhamos pautarmos os caminhos comuns.
Saí para a rua convencido que no fim teria um texto escrito de que tanto precisava, que Deus falaria. As ruas tinham abundância de gente apressada e interessada a comentar o regresso das férias e a crise que, entretanto, tinham esquecido. Nos Correios a menina foi tão europeia e profissional que nem o recibo me deu e eu, de tão encandilado, nem o pedi. Os cafés, vazios, denunciam o quê? Hora de trabalho ou ausência de um eurito no bolso?
Fui caminhando e fui vendo. Vi um pobre e Deus estava concerteza no pobre. Mas eu só vi o pobre.
Vi um bêbado já bêbado às nove da manhã; dava uns inclinados bons dias a toda a gente e toda a gente desviava o caminho e o olhar para não colidir com aquele petroleiro adornado para bombordo. Deus estava ali, mas o bafio e o cheiro a álcool também O incomodam muito.
Vi uma pedinte sentada com muitas sacas em redor. Não sei se seriam dela, nem se dela seriam as pombas aos molhos que lhe brincavam no regaço, nas mãos e na cabeça. Pensei: tem concerteza milho nas mãos e é assim que atrai as pombas. Discretamente procurei o milho que não havia, nem nas mãos nem no regaço. Conclui que a velha pedinte ou tinha magia ou era o Senhor das pombas brancas ali postado num andor feito de sacas. Mas nem ali escrevi o meu artigo.
Vi vendedeiras ambulantes que anunciavam meias de inverno, fruta fresca, sardinhas vivas e pensos rápidos. Qualquer uma me poderia falar de Deus, mas eu não levava dinheiro para comprar.
Vi uma loja de coisas bonitas e úteis, estava em liquidação total. Ninguém estava na loja para além dum homem que lia sofregamente o jornal ao balcão. Procurava emprego na página dos classificados, ou seria Deus informando-se retardadamente do andar do mundo?
Vi uma impressionante fila de gente pela rua fora. Este quadro surpreendeu-me verdadeiramente porque era muito inesperado: era gente jovem entre o aborrecido da espera e o esperançoso do lançamento dos alicerces. Pensei: que fazem aqui? E reparei então que era uma livraria e que alguns deles consultavam listas. Apesar de ser dia de trabalho estavam ali para a compra dos manuais escolares. Ainda bem que o tempo estava bom e não chovia. Segui. O futuro era além.
Vi depois um cego com um bastão branco com uma bola branca rolante na ponta. O cego ia calmamente no centro liso da desimpedida rua pedonal. O bastão palpava o chão para a direita e para esquerda como que varrendo obstáculos ou sondado o segredo de não tropeçar. Sim o cego falou-me muito. Mas deixei o cego que via mais que muitos e segui em frente.
Faltavam cinco minutos para a reunião e eu estava do fim da rua. Aquele fim é coroado com uma quase praceta e depois dela uma igreja ampla. Havia tempo e por que nada interessado em chegar antes da hora, entrei na igreja. Sosseguei quando a senti vazia de gente. Fiquei de pé como o orgulhoso fariseu da parábola. E por fim descortinei lá ao fundo um leve tic-tic que saía das tesouras duma zeladora que asseava o altar-mor. Rodei o olhar e os santos estavam tão circunspectos que nem deram por mim. (Talvez lá do Céu, pensei.) Vi também o Menino Jesus de Praga e a Santa dele. Nem uma nem outro me disseram nada. Os outros igual. Tinha passado quase a eternidade toda num minuto só, quando entrou uma senhora com dois sacos de compras. Era mercearia, verduras e detergentes para a máquina de lavar a louça. Pousou-os ao lado do último banco esquerdo, ajoelhou-se e benzeu-se.
(Pausa amorosamente silenciosa.)
Depois sentou-se e foi a uma bolsa buscar um terço. E continuou a rezar. Era talvez reformada, ou melhor com idade de reforma porque uma mãe nunca se reforma de ser mãe. Teria os filhos onde? Longe, enfrentando as surpresas do mar?, ou espalhados pela terra, correndo-a de lés-a-lés? Tinha acabado de levar os netos ao infantário e regressava a casa para lhes fazer o almoço?, ou teria o marido doente e viera comprar uns legumes frescos para uma sopa fresca que lhe chegasse ao estômago?
Não sei. Não sei nada.
(Mas acredito que a oração ajuda a fazer sopa de legumes.)
Sei que fiquei ali agradecido a vê-la rezar, como quem vê uma santa a rezar e rezando ensina a rezar.
Cheguei à reunião com um atraso de quinze minutos. Porque me dediquei a ficar ali a rezar e aprender a rezar com aquela mulher do saco de compras, que no meio dos afazeres e tribulações da meia idade da vida encontra ainda tempo para rezar, como se fora uma oblação agradável ao Senhor, como se fora um descanso ou um intervalo compensador. Enquanto ela rezava no silêncio daquela igreja ampla, com aquela luzinha tremeluzente ao fundo e uma zeladora que levemente fazia tic-tic, pensei naquela outra mulher com um outro saco de compras que ajudou a converter a doutora Edith Stein na Irmã Teresa Benedita da Cruz. Sim, se uma mulher simples abandona o bulício do dia para saudar o Senhor dos senhores recluído no Sacrário, aí havemos de ver uma tão eloquente lição quanto ela tem de serena confiança e humildade.
Antes que a mulher deitasse mãos às sacas, se virasse e me visse — mas será que me veria? — genuflecti e saí. Deus estivera ali e eu que já tinha rezado Laudes e celebrado Missa encontrei-me com Ele e converti-me um pouco. Não fiz milagres nem subi rapidamente quaisquer degrau do mais pequeno caminho. Apenas ergui talvez um pésito, talvez tenha sido agradável ao Senhor tanto quanto o pode ser um olhar ou um consentir de coração, ou um aspirar da alma.
Regressei a correr a casa porque a reunião não era ali onde crera que era. Era na outra margem e havia que lá chegar. A correr. É para lá que nos leva a oração.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

O lugar da pedra


Não cabe à pedra escolher o lugar, mas ao mestre da obra.
A santidade não consiste em fazer-se martirizar pelos turcos
ou em beijar um leproso na boca,
mas em cumprir os mandamentos de Deus.
A ele cabe decidir se o nosso lugar é em baixo
ou se devemos subir mais alto.
(Paul Claudel, 1868-1955)

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Louvor à Assunção de Nossa Senhora

Louva, minha alma, o Deus altíssimo
porque se dignou elevar ao céu em corpo e alma
a humilde donzela de Nazaré.

Louvem todas as criaturas ao Pai
Porque escolheu uma mulher da nossa raça
A fim de nela manifestar
a vitória sobre a morte e a corrupção,
fazendo de Maria, juntamente com Cristo,
a primícia do nosso destino.

Louvem todos os redimidos
a Nosso Senhor Jesus Cristo,
porque faz brilhar em Maria, sua Mãe,
assunta ao céu, todos os matizes da salvação.

Louvemos o Espírito Santo
que incendiou no ser de Maria de Nazaré
o Fogo que não se consome
e a luz que nunca se apaga.

Que todas as criaturas,
Em união com Maria, louvem a Deus!

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Desaparecida

Encontrei algures uma notícia e fiquei olhar para ela. Como quem vê um boi a olhar para um palácio. Um boi não sabe distinguir uma janela duma porta, o frontispício do telhado, uma estátua duma floreira. Para o boi aquilo é um palácio ou lá o que é, mas como não se come não é nada. Fiquei mais ou menos assim quando li uma notícia sobre o roubo duma ponte. Uma notícia assim não parece o que é, e deixa-nos incrédulos. Eu fiquei. Olhava para as letras e via-as juntas e ordenadas, formavam um texto que era uma notícia, ou brincadeira. Dei por mim a pensar: é daquelas notícias papa-tolos, bem escritas mas sem sentido! Seja. Mas seja o que seja vou trazê-la para aqui.
Os conteúdos eram estes: Na República Checa, entre os inícios de Dezembro e meados de Janeiro deste ano roubaram uma ponte. Era uma ponte de aço, ali disposta para unir duas cidades. Não era um viaduto qualquer, era mesmo uma ponte e pesava 4 toneladas. (Um carro pesa uma e meia!)
As pontes são para mim das construções mais interessantes. São como as vitórias, juntam o que andava separado, vencem abismos, unem as margens que porque o são andam sempre desavindas, fazem comunhão, fortalecem comunidades. São causa de alegria e de júbilo, facilitam a vida e antecipam os encontros. É porque provocam união que as pontes me seduzem. Para além de me ser incompreensível como foi possível roubar uma ponte e ficar mais de um mês sem saber que fora roubada, passo a enumerar os meus outros espantos por causa desta notícia: Não foi o David Coperfield porque ele encena ilusões, não muda a substância da realidade!; Como é que duas cidades ficaram tanto tempo sem se aperceberem que estavam separadas?; Era mesmo uma ponte, ponte?, uma ponte que fazia falta? Era mesmo uma ponte que servia para o que serve uma ponte: unir?; O mais certo é ter sorrateiramente acabado na casa dum socateiro qualquer: mas poderá uma ponte de um só homem ser verdadeiramente uma ponte?

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Um sorvo

Era um encontro de jovens, em Agosto, em Segóvia, no convento de S. João da Cruz. Ali os dias são quentíssimos, a paisagem é de restolho ressequido; os corvos grasnam o dia todo por cima da Igreja da Senhora de la Fuencisla. São tantos e tão insistentes que quando se calam, nos sentimos melhor. Em chegada a noite também ficamos melhor, porque a temperatura amaina.
Nesse dia de que quero falar saímos enquanto o sol era meigo. Calcorreamos caminhos de pó por entre restos de searas e de campos enormes. Parámos bem antes do meio-dia, bem antes do sol queimar. Parámos sob as únicas árvores que se viam por ali. Mas antes de merecermos almoçar, reunimo-nos à volta dos textos de S. João da Cruz. E como é diferente lê-los naquela terra quase só terra, quase só céu!
Passámos ali a tarde. Chegámos por fim a casa cansados e suados, com os corpos a suspirar por um banho. Antes da ceia, porém, estava prevista uma hora de oração. No meio da frescura da capela depuseram uma vela no chão e uma tina de água.
Quero lembrar que entre nós havia um catalão, de 17 anos, que ninguém sabia ao que viera. Estava ali tão deslocado como um peixe a apanhar banhos de sol. Não sabia nada daquilo. Não sabia nem rezar nem o que era um convento nem porque tínhamos de nos juntar a horas certas e fazer tudo junto. O nome, julgo, era Rufo. Apesar de destoar Rufo era simpático, embora quase só falasse de bebedeiras de vinho!
Foi também à oração, que começou e foi decorrendo junto ao Poço de Jacob, onde Jesus se encontrou com a Samaritana e lhe pediu de beber; onde Jesus foi remoçando o coração ressequido daquela mulher, acabando ela a pedir-Lhe: — Dá-me, Senhor, dessa água!
Era assim entre cânticos, o Evangelho e os apelos da Santa Madre, que ia decorrendo a oração. Ali, se traçava o itinerário de fé que cada um de nós deve percorrer: Jesus aproxima-se. Depois é reconhecido e acolhido como a única água que pode matar a nossa sede.
A certa altura, foi cada um de nós até junto da água e só tinha que fazer aquilo que quisesse fazer: mirar, tocar, santiguar-se... Havia um cântico: — Dá-me, Senhor, dessa água. O cântico ia correndo e a fila andando, e à medida que cada um se aproximava da água cumpria o ritual. E regressava ao seu lugar.
Rufo foi o último. Todos vimos como se tardou diante da água. E nós cantando. Ficou ali, imóvel, impressionado, resoluto. Depois, ajoelhou e deu um grande sorvo antes de lavar a cara. O cântico parou mas ali deve ter nascido um santo, pois no restante do encontro o rapaz já não foi mais igual!
(Ignoro o que posteriormente se passou com a vida de Rufo; se ficou a gostar mais de vinho ou de água. Mas o que é certo é que se naquela tarde não foi tocado pela sede de Deus, fomo-lo nós perante o seu gesto tão inesperado.)

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Santos impopulares

Chega Junho, chega o Menino. Digo, a peregrinação ao Menino. É também o mês, dizem, dos santos populares! Curioso nome o de santos populares que, talvez, não inocentemente, estabelece a divisão com os outros, os não-populares. Pelo contrário, não deveriam existir senão santos, santos populares. Mas já que criaram a designação deixem-me que discorde dela. Os Santos Populares são santos visivelmente impopulares! Vejamos.
S. António, dizem-no de Lisboa, os portugueses; e de Pádua, os italianos. Paulo VI foi mais consensual e chamou-lhe António-de-todo-o-mundo. O nome verdadeiro era Fernando de Bulhões, nasceu em Lisboa e morreu em Pádua. Celebra-se a 13 de Junho e foi um pregador. Impressionava pela palavra, fustigava as consciências, era um intelectual de grande craveira. Quando o não quiseram ouvir — isto é, levar à prática a sua pregação — foi pregar a peixes! Esses tinham pelo menos uma virtude: ficavam calados enquanto pregava! Já que não converteu os homens dedicou-se aos bichos!
S. João nasceu em Ain-Karim, Palestina. Mereceu o nome de Baptista por ter baptizado o primo, Jesus, e as enormes multidões que se aproximavam de si. Celebra-se a 24 de Junho. Era seis meses mais velho que Jesus. O seu nascimento foi uma alegre bem-aventurança para a família, mas deve ter deixado muito cedo o lar e para ir viver no deserto. Era austero no viver, e fustigava a sociedade do tempo como se as víboras habitassem as suas casas. Denunciou a hipocrisia do rei do tempo e como prémio Herodes ofereceu a sua cabeça num prato, a uma bailarina cujo bailado o encantara. Arrastou multidões, avivou as brasas da esperança, mas morreu ingloriamente, desamparado e à mercê da iniquidade do poder ao tempo.
S. Pedro celebra-se no dia 29 de Junho e com ele Paulo. Não é certo que tenham morrido no mesmo dia, embora haja quem o diga. Popularmente só se referencia o primeiro e só se festeja o primeiro. Pedro foi o primeiro chefe da Igreja de Jesus. Era um pescador bruto, rude e impulsivo. Era imponderado e belicoso. Estava mais habituado a tratar com peixes que com homens. Falava sem pensar e sonhava demasiado elevado. Quando teve de defender o sonho (porque lhe prendiam o Mestre) foi o único a deitar mão à espada. Mas só cortou uma orelha, que o Mestre logo repôs! Já entronizado chefe da Igreja reserva-se demasiado para dentro da comunidade, ao ponto de Paulo ter de o enfrentar para ganhar espaço e liberdade a fim de se dedicar a anunciar Jesus aos não-judeus. Por fim, deu a vida por Cristo, mas como nem disso se julgava merecedor pediu para ser crucificado de cabeça para baixo. Parece-se muito a um santo impopular e ao contrário.
São Paulo era rabino judeu, fariseu radical, evangelizador de helenistas, cidadão romano, escritor exímio, missionário incansável, fundador de comunidades, pastor dedicado, fabricante de tendas, Apóstolo de Jesus. Foi tantas coisas que parece não ter tido tempo para sardinhas, pimentos e pão. Também não é por aí que é um santo popular. Era homem de amizades sinceras, profundas e exigentes, daquelas que magoam por que muito amarram ou muito dividem. É convertido, melhor dito: um zeloso homem de fé radical que se converte ao Cristianismo. Mistura explosiva que fazem dele um homem frenético sem tempo a perder. A urgência era a sua marca, tão urgente que parecia impaciente. A sua personalidade forte, a vontade férrea e a defesa da fé verdadeira chegaram a deslaçar amizades. Não parece e não é um santo suave, ameno, popular. Com a sua festa neste ano, iniciamos o jubileu bimilenário do seu nascimento.
António, João, Pedro e Paulo são santos impopulares que o coração do povo ama. São muito impopulares e muito contra-corrente aos apetites do povo. Sim, são do povo. São nossos. Mas são tão fiéis a Jesus que parecem avessos ao que o mundo hoje consome. (E nesses dias quase só consome sardinhas, pão e vinho!) A culpa não é deles, é da radicalidade de vida exigida por Quem os chamou. São impopulares porque se abriram a Jesus. Mas porque se abriram de forma tão bela à fonte da alegria, teríamos de fazer festa quando os festejamos. E fazemos. Mas ainda que os convoquemos para a festa a sua impopularidade é como o vinagre, que apesar de sadio tempero e benéfico purificador, recordámo-lo mais por não caçar moscas.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Reformar as palavras


Às vezes nem temos palavras. Outras vezes é necessário levá-las à fonte e lavá-las. Para que digam o que disseram na vez primeira, quando foram criadas. E não digam todo o pó e roupagem que os séculos lhe colaram.
Por exemplo:
Em Julho de 1938 realizou-se em Berlim o congresso internacional dos editores. A guerra se sentia já no ar e o governo nazi revelava-se mestre na manipulação das palavras com fins de propaganda. No penúltimo dia, Goebbels, que era ministro de Propaganda do Terceiro Reich, convidou os congressistas à sala do Parlamento. E pediu aos delegados dos distintos países uma palavra de saudação. Quando chegou a vez de um editor sueco, este subiu ao estrado e com voz grave pronunciou estas palavras:
«Senhor Deus, devo pronunciar um discurso em alemão. Careço de vocabulário e de gramática, e sou um pobre homem perdido no meio dos homens. Não sei se a amizade é feminino ou se o ódio é masculino, ou se o horror, a lealdade e a paz são neutros. Assim que, Senhor Deus, recupera as palavras e deixa-nos nossa humanidade. Talvez consigamos compreender-nos e salvar-nos.»
Estourou um aplauso enorme, enquanto Goebbels, que havia percebido a alusão, saía furioso da sala.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Prece pelas minhas dores

Nesta tarde, Cristo do Calvário,
vim pedir-Te pela minha carne enferma.
Mas ao ver-Te, os meus olhos vão e vêm,
do teu corpo ao meu corpo com vergonha.

Como hei-de queixar-me dos meus pés cansados,
quando vejo os Teus despedaçados?
Como hei-de mostrar-te as minhas mãos vazias,
quando as Tuas estão cheias de feridas?

Como hei-de falar-Te da minha solidão?
quando Te vejo só e levantado na Cruz?
Como hei-de dizer-Te que não tenho amor,
quando vejo rasgado o Teu coração?

Agora, já de nada me lembro,
todos os meus queixumes se afastaram.
A ânsia de pedir que eu trazia
afoga-se-me na boca pedinchona.

E já só peço nada Te pedir,
estar aqui, junto da Tua imagem morta,
ir aprendendo que a dor é só
a chave santa da Tua santa porta.

(Autor desconhecido)

sábado, 31 de maio de 2008

Há uma porta de vidro


Há uma porta de vidro. É ali. Não sei se por ela o que entra é mais do que sai. Sei que há ali uma torrente de luz e de mundo que entra, e, concerteza, não é menor a que sai. Depende do olhar, claro. Depende do nevoeiro do olhar, como é óbvio.
Mas o que é certo é que ali está aquela porta. Impressiona-me aquela porta! Já vi uma vez uma porta florida, que ajudei a fazer. Gostei de a fazer. Gostei de por ela entrar. Gostava daquelas flores todas a sorrir e a saudar quem por ela entrasse. Já vi uma porta tão velha tão velha que parecia a Avó-de-todas-as-portas, mas depois que a maquilhamos dá gosto ver o garbo dos que entram por ela.
Já vi portas seculares, grandes, gigantescas, antigas, nobres, humildes, simples, modestas, discretas, convidativas, a evitar. Já vi. Mas agora não interessa o que vi. Interessa-me aquela porta, mas que porta! Entram nela os apressados, os apresados, os livres, os santos e os pecadores. As crianças, os carros, os lavradores. Os doutores.
É uma porta como uma janela por onde o mundo espreita. Eu ali, ela acolá. É por ela que o mundo entra. É por ela que um rio sai. Cá dentro há luz, muita Luz, tanta Luz, excesso de Luz. Luz. Luz que ninguém vê, porque não se vê de olhos bem abertos. Luz que aquieta, que pacifica, que serena, que. Lá fora a noite caiu. Caiu a noite e há luz. Ou sombra. Sim, sombra-luz. Sombra que descai como um vestido de mulher cinderela. É noite. Por isso sai mais luz que aquela que entra. É um rio que vai.
Que vejo agora? Serás tu, Senhora? Terás, desapercebida, deixado o teu altar? Foste procurar o teu Menino? Que é isso que vejo?
Vejo que além, do outro lado, daquele lado outro da fronteira, onde antes houve uma sebe verde cujas folhas eu gostava de partir delicadamente num clic macio e agora impossível (porque já não há sebe alguma), vejo, vejo que te vejo além dessa fronteira levantando o menino, o teu Menino. Ficas a olhar, ficas a apontar. Demoradamente, de braço levantado e os lábios junto ao ouvido. (Para que, longínquos, não ouvíssemos?) Dizes onde é. — Mas onde é o quê? Mostras o quê? Será que lhe mostras o caminho, o lugar donde veio, a divina prisão onde O adorarmos?
Vejo tudo por essa porta de vidro que me mete cá dentro o mundo, por onde sai o rio. Há essa porta ou janela, não sei. E uma Mãe e o seu Menino aqui, comigo, connosco, enquanto rezamos ave marias.
Ave Maria, porque te vejo aí? Porque não hás-de estar aqui quando te dizemos os piropos de que tanto gostas?Ave Maria.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Em que posso ajudar?


Dizem que em certo lugar havia um menino que todos os dias e à mesma hora ia rezar à igreja. O facto era sabido. O sacerdote vendo que o garoto vinha todos os dias à mesma hora e que passava sempre uns minutos diante do Santíssimo Sacramento, perguntou-lhe:
— Que vens pedir a Deus todos os dias? Qual é o teu problema?
Ao que o menino respondeu prontamente:
— Senhor Padre: Eu não lhe peço nada. Nem tenho grandes problemas. A única coisa que pergunto a Deus é em que O posso ajudar!

A Nossa oração deveria ser como a daquele menino que vivia perguntando a Deus como O podia ajudar todos os dias. Perguntemos-Lhe neste domingo o que nos pede Ele e peçamos-Lhe a graça de podermos cumprir a sua vontade de salvação.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

Divinas mãos e pés, peito rasgado,
Chagas em brandas carnes imprimidas,
Meu Deus, que por salvar almas perdidas,
Por elas quereis ser crucificado.

Outra fé, outro amor, outro cuidado,
Outras dores às vossas são devidas,
Outros corações limpos, outras vidas,
Outro querer no vosso transformado.

Em Vós se encerrou toda a piedade,
Ficou no mundo só toda a crueza;
Por isso, cada um deu do que tinha.

Claros sinais de amor, ah saudade!
Minha consolação, minha firmeza,
Chagas de meu Senhor, redenção minha!

(Hino da Liturgia das Horas)

quarta-feira, 21 de maio de 2008

A Jesus sacramentado

(Eis uma breve oração de louvor a Jesus sacramentado. Pode ser uma bela oração diária. Não é muito comprida e até é fácil de memorizar.)

Seja louvado, adorado,
amado e correspondido a cada momento,
o Coração de Jesus
em todos os sacrários do mundo
até à consumação dos séculos.
Amen!

terça-feira, 20 de maio de 2008

Uma palmeira, pardais e meninos

Reclamaram comigo porque trago o blog abandonado. Foi a primeira vez que resmungaram, nunca tal tinha acontecido. Porque há quem leia e não quero que se sinta desprezado, pobre, triste e abandonado, aqui vai.
Confessarei então o meu pecado e penitenciar-me-ei dos meus erros. Sim, penitenciar-me-ei, apesar do blog se chamar DEPOIS DA HORA, o que pretende indicar que depois da hora tudo pode acontecer, até ganharmos o jogo num penalti inexistente.
Isto às vezes é tão depois da hora que pode nunca chegar a ser blogado. Nem tudo é blogado, obviamente. Não é porque o pão está cozido que se abre o forno. Nunca se abre logo o forno. Por isso, podemos sempre esperar que depois da hora nada haja.
Mas confessar-me-ei, como disse.
A meus pés correm agora as águas dum rio calmo. Não me beijam logo os pés porque entre as águas e os pés está um oceano de crianças aos gritos de hora a hora. Gritam tanto as crianças, agora!, ou sou eu que estou a ficar velho? Mãe, eu gritava assim, antigamente? Ou são os novos heróis que são mais belicosos e em mim adormeceram os antigos e a ferrugem que corrói as suas armaduras não os deixa mexer-se muito?
Entre as crianças e a minha cela há ainda uma palmeira enorme que me entra pela janela e enche quatro quintos do quarto que está num alto primeiro andar! Por essa razão eu quase nem vejo as crianças, apenas os gritos. E o rio apenas sei que corre ali, já ali.
E depois há aquela palmeira enorme. É uma palmeira da Judeia, julgo eu, embora aqui se alimente melhor que acolá. Quase sempre que ergo o olhar vejo a palmeira a espreitar e digo-lhe: - Olá, palmeira da Judeia! E ela que gosta que fale com ela, agita os braços mais altos, que os debaixo são tão velhos e secos que já nem caem nem se mexem.
Na palmeira da Judeia há uma colónia de pardais ou verdelhões. Brincam tanto e tanto cantam que já nem sei se são os pardais que estão no recreio, se são os meninos da Judeia que treparam à palmeira e dali saúdam com ramos e cânticos Aquele que vem em nome do Senhor!
Sei, sim, que os meninos e os pardais, onde quer que estejam, estão ali, mesmo à beirinha da minha janela. E eu a vê-los, e eu a ouvi-los. E por testemunha a palmeira da Judeia.
De manhã e também há noite há uma porta de vidro que se abre. E por ela entram pessoas e saem pessoas. Entram comboios que saem ronceiros da Ponte Eiffel e saem comboios que entram ronronantes na ponte sobre o rio que quase banha os meus pés. E entram camiões e carros, turistas e devotos. E tantos outros, e tantos muitos. E tantos sem rumo e muitos buscando um porto de abrigo.
Antes que a noite chegue conto os camiões vazios que dão saltos no trapézio duma tampa do saneamento que está no trilho deles, um pouco ao lado da palmeira da Judeia.
E depois que desce a noite voam gaivotas em torno da torre sineira, até que se afastam ou até que adormeçam.
E ao sair do carro que me trouxe, a primeira coisa que vi foi uma pomba, um juvenil, que andava ali, esperava-nos por ali, aguardando que lhe déssemos migalhas e não saiu de junto de nós enquanto não repartimos com ele meio biscoito.
E tendo-me confessado, julgando nada ter esquecido, submeto a esta confissão os pecados da minha vida passada, e a vós peço penitência e absolvição!

segunda-feira, 31 de março de 2008

Ser padre

Ser padre é ser pai.
Pai que cobre com o manto de Deus o frio da humanidade.
Pai que vela de noite pelo rebanho, em benefício da sociedade.

Ser padre é ser sacerdote.
Sacerdote que reza de joelhos,
intercedendo humildemente pelo seu povo.
Sacerdote que pede a Deus para que jamais se rompam os laços
que unem o rebanho ao Bom Pastor.

Ser padre é ser ponte.
Ponte que liga margens separadas, que liga o céu e a terra.
Ponte que une as diferenças,
para construir a fraternidade que come do mesmo Pão.

Ser padre é ser candeeiro.
Candeeiro que traz luzes que iluminam as nossas vidas;
luzes claras que clareiam os caminhos dos que caminham.

Ser padre é ser servidor.
Um servo forte e corajoso que vai aonde é preciso.
Um servo que leva a bandeira da paz aos desavindos.
E que aos fracos oferece o Pão que alimenta até ao fim.

Ser padre é também ser mãe.
O Padre é uma mãe que traz ao mundo a ternura e a misericórdia de Deus.
É uma mãe que nos ouve e nos abençoa,
e, que quando caímos nos perdoa e nos envia de novo a caminhar.­

terça-feira, 18 de março de 2008

Sigamos o Rei

Sigamos o Rei!
Desçamos ao vinco dos vales, bebamos fontes.
Sigamos atrás de muito mais que a fantasia:
subamos promontórios e montes,
subamos com amor e com alegria.


Sigamos o Rei antes que morra!
Sigamo-l’O. A viva água
serena desça dos olhos ao coração
e banhe em nós os rios imensos de mágoa
e banhe em nós os cofres de solidão.


Sigamos o Rei depois da cruz!
Sigamo-l’O a vida inteira
aonde quer que Ele vá.
Sigamo-l’O como a vez primeira,
Sigamo-l’O ontem, hoje e amanhã.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Bem-aventuranças

O Evangelho deste Domingo apresenta-nos Jesus rodeado pelos seus discípulos, no alto dum monte. O Mestre senta-se e ensina. É assim que prova a autoridade e a segurança da doutrina das Bem-aventuranças. Elas resumem a força e a dinâmica do Reino de Deus, pois Deus semeou no coração humano a semente da confiança e da bondade, da mansidão e da misericórdia, da inocência e da constância.
Tudo está a começar e isso se vê na abertura à proclamação da Boa Nova e na forma simples e cooperante com Jesus. Que assim de simples são os bem-aventurados.

O porteur

A Nouwen chamaram-lhe o santo ferido, que é mais ou menos o título dum livro seu. Era ao que parece um homem brilhante. No momento mais alto da sua vida chegou, com alguma frequência, a dar conferências em três continentes diferentes em apenas uma semana. Era muito estimado e reclamado. Mas também inseguro, de altos e baixos e depressivo. Conseguia entreter, sem enfadar, uma assembleia de milhares de pessoas durante duas horas.
Estava sempre em busca, sempre insatisfeito, sempre agitado, sem paz. Muitos depois de lerem os seus livros, ao conhecerem-no pessoalmente ficavam desiludidos: não era como o haviam imaginado...
Admirava o circo e nele via o outro lado da espiritualidade, ou, melhor dito, uma maneira outra de a ver. Gostava sobretudo dos trapezistas. Deles dizia, pensando na experiência de Deus que somos chamados todos a viver: «Eu só posso voar livremente quando sei que há um porteur para me amparar. Se temos de arriscar alguma coisa, de ser livres, no ar e na vida, precisamos de ter a certeza que há um porteur. Temos de saber que, ao descer em queda livre, alguém nos vai amparar, garantindo a nossa segurança. O grande herói é o que menos se vê. Confiemos no porteur.

domingo, 27 de janeiro de 2008

TRÊS HOMENS NUM BARCO

(A propósito do Domingo da Unidade)
São três Apóstolos: Pedro, Paulo e João.
Desde a perspectiva da diversidade eles prefiguram Igrejas diferentes.
A Igreja Católica reclama-se de Pedro; a Igreja Reformada, de Paulo; e a Igreja Ortodoxa de João. Mas será mesmo assim?
A Igreja de Pedro é a de um pastor. O Senhor disse-lhe: «Apascenta os meus cordeiros». A Igreja do Pastor tem o cajado, o manto e o chapéu. A sua preocupação é a unidade do rebanho, por isso é vigilante e teme o desvario. Pedro é uma rocha de fé, a sua Igreja é piramidal e bem hierarquizada com firme objectivo de resistir à erosão dos séculos. Pedro não é cego às visões do Espírito, nem fechado ao futuro; porém não gosta de forçar nada: é o homem da tradição, fiel às suas raízes.
Se Pedro vai ao timão, Paulo está na proa. Corre em frente, corre o risco de perder o equilíbrio. A sua preocupação é a missão. Paulo é sobretudo um homem da Palavra e não tanto dos sacramentos: «Cristo enviou-me a anunciar a Boa Nova mais que a baptizar.»
No centro está João. Uma mão está no passado, a outra está estendida para o futuro. João não é pastor nem pregador; ele contempla a beleza do Pai no rosto do Filho iluminado pelo Espírito Santo. No presente vive a eternidade. O espírito de João é a fidelidade ao amor de Deus vivido hoje.
Quão diferentes são estes apóstolos, as suas atitudes e os postos que ocupam! Nenhum deles pode dizer: Eu represento a verdadeira Igreja!, porque a Igreja de Cristo é simultaneamente a Igreja de Pedro, Paulo e João.
Três homens diferentes, mas um só barco, um só mastro em forma de cruz, uma só vela, um só Espírito que sopra, que incha a vela e faz o barco avançar por sobre as ondas do tempo.
(Henri Lindegaard, 1925-1996)

O equívoco de Vincent (van Gogh)


A vida dos famosos tem por vezes formosos equívocos, deliciosos equívocos. Como todos.
Na maré alta das suas conferências de professor universitário de espiritualidade, Nouwen deixou-se guiar pelas intuições evangélicas e evangelizadores de van Gogh (ambos holandeses, ambos marginais, ambos célebres, ambos com os túmulos resguardados pela alegria de girassóis). Entrava frequentemente em cena com uma orelha ligada, para depois se referir a alguns pontos da vida e arte de van Gogh, com o intuito de sublinhar alguns pontos profundamente espirituais.
Um dia recebeu um convite duma Ordem Religiosa feminina para falar de Vincent, no seu aniversário. No dia certo a sala estava cheíssima de religiosas vindas de dezenas de conventos. O orador principal, o P. Henri Nouwen, deu um magnífico espectáculo revelando toda a loucura de Vincent. As irmãs ouviam-no e olhavam-no com surpresa, deleite e até gozo, e também perplexidade e confusão. Nouwen não estava a ter o sucesso do costume...
Ao fim de duas horas o fim chegou. E as palmas também, mais bem hesitantes que exultantes. A Superiora Geral veio, por fim agradecer-lhe e acrescentou: — «Mas, padre, quando lhe pedimos uma conferência acerca de Vincent, referíamo-nos ao nosso fundador, São Vicente de Paulo.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Procurar juntos


Um artista, prestes a ser ordenado, recebeu um dos livros de H. Nouwen, dum amigo. (Henri Nouwen era um famoso sacerdote, escritor e conferencista muito aclamado nos EUA na época pré-conciliar e também no pós-concílio.) Levou esse livro para um retiro, porque uma das frases o impressionara vivamente. Já na casa de retiros decidiu dar um passeio pelo bosque e procurar uma pedra em que pudesse pintar a frase que tanto significado tinha para si.
Enquanto dava uma volta, olhando pensativo para o chão, outro homem, também de retiro, passou por ali, e perguntou-lhe se perdera alguma coisa. O artista falou do livro e das palavras que o tinham tocado. Sorridente, o estranho replicou: «Muito bem, eu sou Henri Nouwen. Vamos procurar a pedra juntos.»

Como andam os teus passos?


É em Cafarnaum, que Jesus se instala, no início da sua vida pública, para ver e ser visto. Desde uma esquina vê passar jovens e jovens, publicanos, pecadores e pescadores. E muitos outros.
Vê jovens, como disse um poeta, com largas passadas de esperança; e vê-os de passinhos temerosos. Olha os olhos e vê os corações.
Diz, queres vir comigo? E foram quatro: André e Pedro, João e Tiago.
Não conseguiram resistir-lhe.
Como andam os teus passos?

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Second Life

O dia foi duro? Sentes-te ameaçado? Todos te pegam? O trânsito foi impossível? O patrão foi mais uma vez horrível? O emprego não é gratificante? Não há para onde fugires? Andas oprimido, obcecado, desiludido? Bem, só te falta então a proximidade dum computador ligado à Net. Por ali já é possível fugir à crueza da realidade: não te molhas nem te constipas, não sofres nem é oprimido, e sobretudo podes ser quem tu sonhas que és, e sem responsabilidades. É o mundo virtual da Second Life; ela permite-te fugir à realidade. Ali, tu podes criar o teu mundo fictício, onde a existência obedece a uma regra: podes viver uma vida diferente daquela que tens.
Em meados de 2007 a comunidade da SL (que até possui uma moeda!) era composta por mais de oito milhões de utentes-residentes!, e este é um fenómeno que está no início. Começou em 2003.
A SL supõe um mundo criado em três dimensões. É um universo paradisíaco, com ilhas fantásticas, belas montanhas, mares extasiantes, negócios, restaurantes, casinos e igrejas. A SL não é um jogo, mas uma proposta de viver outro avatare, uma segunda vida. Ali tudo é possível, desde que se fuja do mundo real e onde não se é responsabilizado pelos próprios actos.
A realidade da SL, ainda tão estranhamente nova, é um grande desafio para a Igreja e um verdadeiro campo de missão, visto que por detrás da ficção e da fantasia vivem homens e mulheres reais, homens e mulheres que na sua caminhada buscam a Deus e a quem Deus amorosamente busca. Teria São Paulo rejeitado tal areópago? Teria recusado pregar ali a Palavra de Deus? Se são muitos os que ali se refugiam, porque haveríamos nós de fugir dali esvaziando de presença cristão um lugar — ainda que virtual — que se pode encher de Deus?
Na verdade, não falta quem assuma a SL como uma Nova Terra, uma terra digital, cujos mares deverão ser sulcados pelas novas caravelas da fé, para que verdadeiramente chegue ao fim do mundo a única Palavra que é real e verdadeira.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Oração ao Menino Jesus de Praga


Menino Jesus, Divino Salvador do Mundo,
sois o mais belo dos filhos dos homens,
bendito Filho de Deus
gerado pelo Espírito Santo no seio de Maria.

Vós fostes Menino para me revelar a bondade do Pai
e me atrair a Ele.

Sois o Príncipe da Paz, o Sol da Justiça,
Aurora da Nova Humanidade.

Velai por todas as mulheres
que estão para ser mães.
Tomai no vosso regaço
todas as crianças do mundo,
especialmente as que não têm família,
as que vivem pobres,
as vitimas dos adultos
e as que sofrem a guerra.

Fazei-me criança para entrar no Reino do Pai.
Ajudai-me a crescer em graça
diante de Deus e dos homens.
Amen.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Oração do Pai sobre o filho


Filho meu,
que estás na Terra, preocupado, tentado e solitário.
Eu conheço perfeitamente o teu nome
e pronuncio-o como que santificando-o, porque te amo.

Não, não estás só, mas habitado por mim
e juntos construímos este Reino de que serás herdeiro.
Alegra-me que faças a minha vontade,
Por que a minha vontade é que tu sejas feliz,
já que a glória de Deus é que o seja cada pessoa viva.

Conta sempre comigo e terás o pão para hoje;
não te preocupes!
Só te peço que o saibas repartir com o teu irmão.

Sabes que perdoo todas as tuas ofensas,
antes mesmo de te arrependeres.
Por isso te peço que faças o mesmo àqueles que te ofendem a ti.
Para que nunca caias em tentação,
segura firme a Minha mão
e Eu livrar-te-ei do mal, meu querido filho.

O Antro


A Universidade romana La Sapienza (A Sabedoria) desconvidou o papa Bento XVI, que assim já não visitou a Universidade na abertura do ano lectivo. O motivo é simples: 67 dos quatro mil professores opuseram-se à ida do Papa. Razão? Não sabem ler.
A ideia de universidade é a de universalidade. Vá lá, eu até compreendo que uma universidade tenha alunos que não saibam ler (é um bocado difícil, não é?), mas agora professores! E é que tiveram 18 anos para aprender, pois data desse tempo o texto do cardeal Ratzinger que suporta o argumento da recusa.
Pronto, em nome da universalidade aceite-se que não saibam ler; mas não se aceite que não queiram aprender a ler. E se quiserem continuar sem aprender que saiam de A Sabedoria e fundem O Antro, pois até Ali Babá tinha um com mais 40 companheiros.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

O Papa «malinteso»

O papa Bento XVI não é tão intocável como João Paulo II. Não há gesto que tenha que não seja logo duramente criticado. Digo criticado, não digo compreendido.
No passado domingo, Festa do Baptismo do Senhor, baptizou 13 bébés filhos de servidores do Vaticano. Na Eucaristia que celebrou seguiu o rito pré-conciliar, isto é de costas para a assembleia. «Para respeitar o conjunto da jóia arquitetónica», justificou o Vaticano. Não há quem não critique: «É um regresso ao passado»; «é um passo mal dado»; «já não se pode celebrar assim».
Da única vez que assim tive de celebrar — porque não havia mesmo outro altar — Não me deu jeito. É de todo desconfortável. Mas compreendo o gesto do Papa. Há na Igreja quem assim queira celebrar. E se a queremos Universal havemos de aceitar que assim se possa celebrar. Quererão proibir o Papa de o fazer? Gostariam que se lhes impusesse este ou aquele modo? Por isso, ainda bem que o fez.
Mas, isso não tira que seja «malinteso», quer dizer incompreendido.
Razão tinha o conselho de Santa Teresa de Jesus: «Faz-te amar e far-te-ás obedecer». Não teve tempo, e já não o terá.

domingo, 13 de janeiro de 2008

As fotos da imprensa


Um estudo qualquer, julgo que português, revelava que a imprensa dos últimos anos traz cada vez menos pessoas a rir ou sorrir nas suas fotografias. Recordei-me do tema ao ler a crónica do Provedor do leitor, no Público de hoje. Por que é Domingo fui fazer as contas. Aqui fica o resultado óbvio dum exercício quase-inútil.


Na Capa
>> John F. Kennedy sorri sério.
>> Sérgio Godinho ri.
>> O senador John McCain sorri e a mulher, deve ser a mulher, também.
>> Cristiano Ronaldo ri feliz e um colega, de perfil, também.
>> António Barreto e Vasco Pulido Valente estão sérios.
>> três estrelas da TV a fazer publicidade ao Millennium sorriem.

Página dois e três
>> Num corredor do hospital ninguém sorri sequer.
>> Correia de Campos, Ministro da Saúde, está grave e sério.

Página quatro
>> Num corredor doutro hospital também ninguém sorri.

Página cinco
>> O piloto Carlos Sousa, no deserto, de pés numa bacia de água, não tem razões nem para sorrir. Faz publicidade à CGD.

Página seis
>> Num corredor duma prisão também ninguém ri.
>> Alberto Costa, Ministro da Justiça, está com o facies grave porque dura lex sed lex.

Página sete
>> Não há ninguém feliz numa manifestação pró-animais.
>> Numa fotografia de crianças mendigas não se vê ninguém a sorrir.
>> Numa foto publicitária sobre a Orquestra de Câmara da Europa ninguém parece sorrir.

Página oito e Nove
>> Publicidade da Optimus: todas riem felizes.

Página dez
>> José Medeiros Ferreira, entrevistado, responde sério.

Página onze
>> Idem.

Página doze e treze
>> Publicidade da Optimus: todos riem felizes.

Página quatorze
>> José Pinto Coelho e Diogo Feio, cada um em seu lugar, estão sérios.

Página quinze
>> Isabel Pires de Lima, Ministra da Cultura, fotografada preocupada.

Página dezassete
>> O maquinista do Metro do Tua; Artur Cascarejo, Rui Tulik e José Silvano vão ciscunspectos.
Página dezoito
>> George W. Bush e John MacCain estão com cara de poucos amigos e dedo em riste.

Página dezanove
>> O ditador Suharto aparece debilitado.
>> dois soldados iraquianos vigiam preocupados pela vida.

Página vinte
>> Apoiantes do Partido Kuomitang, Taiwan, festejam felizes a vitória.
>> D. Paulino Fernandes Madeca, recentemente falecido, aparece em memória grave.
>> Jacob Zuma, novo líder do ANC, saúda sorridente.

Página vinte e um
>> Um menino colombiano espreita triste por entre pernas de soldados.
>> Clara Rojas, livre, sorri.

Página vinte e dois
>> Hillary olha triste e preocupada com a gaffe.

Página vinte e três
>> Cécilia Albéniz, cigana ex-primeira dama francesa, olha divertida e desafiadora.

Página vinte e quatro
>> O pintor António Cruz, divertido, desvia o olhar.
>> Alguém, compenetrado, investiga um par de telas.

Página vinte e cinco
>> Rapaz circunspecto na Festa do Património, a 4 de Dezembro no Porto.

Página vinte e sete
>> Amadeu Ferreira, fotografado como quando escreve em mirandês: sério.

Página vinte e oito
>> Rapaz de bicicleta cuidando não cair na calçada.

Página vinte e nove
>> Publicidade: Oferta de trabalho: jovens felizes.

Página trinta e quatro
>> Crónica do Porto-Braga: Lizandro determinado; bracarense insuficiente.
>> Jesualdo Ferreira e Manuel Machado: sérios, como se exige a um mister.

Página trinta e cinco
>> Fabuloso, ex-FCP, exultante.
>> Diego, ex-FCP, convicto.
>> Giovanni, ex-Vitória de Guimarães, muito sério (ou aborrecido?).
>> Christian, ex-Estoril, feliz.
>> Mostovoi, ex-Benfica, surpreendido.
>> Ronaldinho, ex- Estrela da Amadora, exultante.

Página trinta e seis
>> Nuno Gomes, Benfica, desiludido.
>> Camacho, treinador do Benfica, perdido ou em busca.
>> Carlos Brito, Leixões, expectante.
>> PauloBento, Sporting, depressivo.
>> Stojkovic, Sporting, compenetrado.

Página trinta e sete
>> Pepe, selecção de futebol, triunfante.

Página trinta e oito
>> Pato, futebolista brasileiro, 18 anos, recentemente contratado pelo Milan: feliz em duas fotos.

Página trinta e nove
>> Jogadores do Manchester United felizes com a goleada.
>> Maniche, feliz na passagem do Atlétic para o Inter.

Página quarenta
>> Kevin Garnett basquetebolista dos Celtics está concentrado no seu trabalho.
>> José Meirim, imperial.
>> Magnus Carlsen, noruegês, 17 anos, venceu o nº 6 do xadrez mundial e está sério.

Página quarenta e um
>> Ron Dennis, patrão da McLaren, F1, desafiante numa; sério, noutra.

Página quarenta e cinco
>> António Barreto como capa.

Página quarenta e seis
>> Frei Bento domingues parece um monge a confessar-se.

Página quarenta e sete
>> Joaquim Vieira, Provedor do leitor, sereno e confortável.
>> Presidente Harry Truman, feliz e exultante.

Contracapa
>> Clara Rojas, como na página 21.
>> Medeiros Ferreira, como nas páginas 10 e 11.
>> Vasco Pulido Valente, como na capa.
>> Cristiano Ronaldo, como na capa.
>> Camacho, como na página 36.
>> Ma Ying-jeou, sorridente (e preocupada?).
>> Pervez Musharraf, aparentemente (ou talvez não) sereno.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Poema de Natal sem árvore nem renas

(A partir dum poema de Walt Whitman)
Não deixes terminar o Natal
sem cresceres um pouco com Quem por tanto ter descido,
é chamado O Louco.

Não deixes o desejo de fazer algo belo
e extraordinário. Também na noite santa as estrelas
viram a Verdade muito ao contrário.

Não deixes vencer o cansaço
sem teres sido feliz, sem levedar os sonhos.
Nasce o Messias, foi isso que Ele quis.

Não deixes de sonhar, mesmo acordado.
Nesse reino há hinos à liberdade. Celebra e canta,
porque nem as palhas cederam à mediocridade.

Não deixes que te leve pela mão
o que faz a vida um inferno. Ama os trigais,
porque depois das flores vem o Inverno.

Não deixes que te roubem o falar, quando é um dever.
A Palavra pregou e foi calada.
É assim que A deves imitar.

No Natal semeia as letras da esperança.
Não deixes que os ventos
só soprem violentos. Falta escrever a tua estrofe!

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Fazendo o bem

Jesus passou fazendo o bem, porque Deus estava com ele! (São Pedro)

O mais belo dos dons


O Baptismo é o mais belo e magnífico dos dons de Deus.
Chamamos-lhe dom, graça, unção, iluminação,
Veste de incorruptibilidade, banho de regeneração,
Selo e tudo o que há de mais precioso.

Dom,
porque é conferido àqueles que não trazem nada.
Graça,
porque é dado mesmo aos culpados.
Baptismo,
porque o pecado é sepultado nas águas.
Unção,
porque é sagrado e régio.
Iluminação,
porque é luz irradiante.
Veste,
porque cobre a nossa vergonha.
Banho,
porque lava.
Selo,
porque nos guarda e é sinal do senhoria de Deus.

(S. Gregório de Nazianzo, séc. IV)

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Outra bênção

(Antiga bênção irlandesa)
Que a terra se vá tornando caminho diante dos teus passos.
Que o vento sopre sempre sobre as tuas costas.
Que o sol brilhe quente na tua face.
Que a chuva caia suavemente sobre os teus campos.

E até que nos voltemos a encontrar
Que Deus te traga na palma da sua mão.