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quinta-feira, 10 de maio de 2007

Carta a minha mãe

Esta é a minha carta do Dia da Mãe.
Uma mãe perdoa que lhe chegue tardia,
e compreende que seja divulgada.

Aveiro, 03 de Maio de 2007

Querida Mãe,
saúdo-te neste dia com um grande beijo, daqueles que aprendi a dar contigo.
Neste dia da Mãe assaltam-me recordações que são agradecimentos, e que eu quero recordar para em ti louvar o Senhor. Lembro-me bem que quando era muito pequenino tu tinhas uma espécie de varinha mágica com solução para tudo. Vinha uma dor e tu vinhas prontamente amainá-la; vinha uma febre e tu a serenavas; caíamos, fazíamos uma esfoladela nos joelhos e lá vinhas com um pedaço de algodão molhado em alguma solução milagrosa (ou eram simples lágrimas tuas, não sei) que tudo remediava. Assim até apetecia cair de propósito...
Sabes quando se é pequenino tem-se medo de tudo, menos junto da mãe. Junto dela desaparece o medo do escuro, dos lobos e do vento da serra, das trovoadas e das guerras que não sabemos o que são mas ouvimos falar com medo delas. Sim, junto da mãe não temos medo, se ela não tem medo. Até mesmo do dentista e do homem que pela primeira vez, à beira rio, me cortou os caracóis do cabelo.
Nas dores grandes aparecias, mãe, com os primeiros socorros e umas mãos fortes que cuidavam de mim antes de me confiares a alguém vestido de branco, que rematava os primeiros cuidados. Nas dores leves aparecias com um beijo e uma voz dizendo que não era nada, nada, nada mesmo. E é que tudo passava, porque, como bem sabias, não era mesmo nada.
Os teus joelhos eram fortes. E no teu colo, antes de crescermos, coubemos todos duma só vez. O teu colo foi o meu primeiro banco da igreja. Aí aprendi o Sinal da Cruz, a Avé Maria, o Anjo da Guarda, o Pai Nosso, o Terço, o Credo, a gostar do Sacrário. Ainda te lembras da minha definição de Santíssima Trindade: São três Pessoas, Pai, Filho e Mãe!!! Lembras-te, não lembras?
Quando comecei a crescer e a sonhar, disseste-me que não havia que ter medo dos sonhos. E que para além dos sonhos comuns existiam outros que Deus ternamente vai semeando em nosso coração. Foi assim que fui crescendo, cada vez mais longe do teu colo, contornando os desafios do desconhecido, vencendo os escolhos perigosos da tristeza por estar longe de ti. Sim. Jamais tive abraços e beijos tão doces como os teus, sobretudo se andava triste. Jamais tive voz tão convicta a recordar-me as minhas responsabilidades e a obrigação do meu contributo. E tudo isso sem estudares os grandes psicólogos de referência!
Cresci. Já não sou mais um menino, embora seja ainda o teu menino. Cresci e comigo cresceram as responsabilidades, aumentaram as obrigações. Já não tenho tanto tempo assim para ti, mas sei que o tens para mim. As distâncias afastaram-nos, mas não separaram de vez os corações. Os sonhos continuam a brotar, a agenda a mandar, os compromissos a exigir. Sei que compreendes que a distância nos une, que não afasta nem abre trincheiras. Essa compreensão é outra maneira de as mães amarem os filhos, estimulando-os para a independência, rezando por eles, telefonando de quando em vez para se consolar com uns minutos de voz apressada.
Hoje, mãe, no dia da Mãe, quero agradecer-te tudo (e ao pai também). És a mulher mais sábia que conheci. (Tal como eu, tu sabes que nesta carta disse quase nada sobre ti!). És uma mulher que infinito algum te assustou, que tempestade alguma te abateu de vez. A isso chama-se ser uma mulher de garra. Talvez garra não seja nome de mulher, mas bem poderia ser de ti, mãe. Como mãe. Como mulher.
Neste Dia da Mãe quero agradecer-te tudo, mãe. O feito e o por fazer contigo. E com os meus irmãos agradecer-te, e bendizer-nos a nós também por termos sido abençoados por ti, minha mãe.
Recebe um beijo do teu filho,

João Manuel